A troika acha que Portugal está a ser bem governado. É natural: Portugal está a ser governado com o programa da troika.
Como deixou claro o Presidente do PSD, no final de Janeiro (não passou ainda um mês), esse partido tem um "grau de identificação importante" com o programa acordado com a 'troika' e quer cumpri-lo porque acredita nele. Nas suas palavras: "(...) o programa eleitoral que nós apresentámos no ano passado e aquilo que é o nosso Programa do Governo não têm uma dissintonia muito grande com aquilo que veio a ser o memorando de entendimento celebrado entre Portugal, a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional". Ainda segundo o presidente do PSD, "executar esse programa de entendimento não resulta assim de uma espécie de obrigação pesada que se cumpre apenas para se ter a noção de dever cumprido". Nada que espante na "avaliação da troika", portanto: a troika tem os seus entusiastas no governo, felizes e contentes por poderem seguir esta política.
O PSD, apoiado no CDS, no PCP e no BE, derrubou um governo (o segundo governo de Sócrates), que tinha uns meses de mandato, no calor de uma crise. Isso serviu para nos fazer entrar mais resolutamente na crise, criando à direita liberal uma oportunidade de aplicar o seu programa, apoiada na ideologia do troikismo. É isso que está a fazer. Evitam é de estar sempre a fazer de conta que se limitam a fazer o que tem de ser feito, que se sentem condenados a esta receita. Esta é a sua receita, o seu programa, a sua política. Foi para isto que mobilizaram a coligação negativa. Não venham é, intermitentemente, chorar lágrimas de crocodilo pelas consequências: eles sabem quais são as consequências e querem-nas como prova de vida do seu conceito.