Soneto dos anjos bruscos (e de por que te procuro)
Entre asas de anjos bruscos vogamos.
Fora, o dia do cão negro espreita
e a chuva que cai, cai rarefeita.
Amargamos novos dias de ramos.
Dentro, desnudos, os dois criamos
trinta estirpes de rosas: colheita
dos corpos na alegre cama desfeita,
aromas secretos delas reclamos.
Tu tens profecias no corpo, lê-mas:
diz-me como com pedras fazes casas,
como sem palavras fazes poemas,
como com tanto frio tu abrasas;
explica-me o mundo e os dilemas,
mas encosta às minhas as tuas asas.