Quanto a este meu post de ontem, quero acrescentar o seguinte.
Há uma maneira "racional" de tratar com os assuntos humanos que julga que a razão está fora/acima da história, pelo que o significado histórico e tradicional de certas práticas é desprezado e pode simplesmente ser rasurado pela "lei".
Há, por outro lado, uma maneira "comunitária" de lidar com a razão que toma a tradição como um critério absoluto, fechado, que não pode ser repensado - e, desse modo, despreza a possibilidade de raciocinar em conjunto com outras tradições, tendo em conta outros valores e outros aspectos das questões.
Os ortodoxos de certas convicções religiosas, que continuam a achar que não podem comer camarões por causa de uma frase do Livro, praticam esta última espécie de intolerância. Os iluministas - que, além de serem iluministas, acham que já foram eles mesmo pessoalmente iluminados - pertencem à primeira espécie de intolerância. Nenhuma destas espécies de intolerantes suporta indivíduos que não alinhem nessas intolerâncias. Qualquer uma destas espécies de intolerância é uma sobrevivência de tempos remotos em que cada "civilização" estava a milhares de quilómetros das outras, podendo fazer de conta que estava só no mundo.
Claro que, como não somos relativistas, não acreditamos que tudo se resolva pelo diálogo. Mas a alternativa ao relativismo não é o dogmatismo. Nenhum dogmatismo.