22.6.11

iliteracia matemática





O fascínio de alguns comentadores-ou-jornalistas-ou-opinadores-ou com o facto de o novo ministro da educação ser matemático, formação que, no entender de alguns, lhe daria uma especial clarividência, não revela nada sobre o ministro, que suponho isento de qualquer responsabilidade nessa fantasia, mas revela muito sobre os autores dessa linha de magnífica admiração. Revela iliteracia matemática: a admiração tola dos ignaros. Quando eu andava nos primeiros anos de escolaridade já havia esse fenómeno: os meninos que suavam horrores só de pensar na aritmética elementar julgavam que os que sabiam multiplicar 9 por 6 sem gaguejar eram uns génios. Mais tarde, a luz que irradiava de quem resolvia um sistema de equações sem necessidade de aspersão com água benta, era uma luz inexistente - mas visível para os que começavam a tremer como varas verdes duas horas antes de uma aula de matemática, que eram os mesmos que se sentavam atrás do mais matulão a ver se passavam longe da vista do setôr de matemática. Esses desterrados das delícias das ciências formais parecem ser legião agora no jornalismo-comentarismo, onde prosseguem a narrativa dos seus medos, agora definitivamente convencidos de que quem sabe matemática é um génio.
Não é necessariamente um génio. E aviso, desde já, os ditos jornalisto-comentadores, para irem meditando no assunto: mesmo que Nuno Crato venha a revelar-se um génio como ministro (os santos o protejam, se já o perdoaram dos radicalismos juvenis), isso não será prova de que ser matemático implique ser um génio.