24.11.09

eu nem peço muito



As notícias são boas: as coisas estiveram para ser piores. O que quer dizer que as notícias são más. O desemprego, a actividade, as expectativas, a confiança, a ideia de que se pode alimentar a família e pagar o aquecimento com umas poucas centenas de euros por mês, as caixas de comentários nos jornais on-line e as praças públicas nas televisões a mostrar que toda a gente acha tudo e o seu contrário sobre qualquer magno assunto e sempre com a máxima arrogância e certeza, os partidos todos no parlamento entrincheirados cada um na sua bancada à espera que algum deputado da outra banda ponha o nariz de fora para lhe atirar com um balde de merda, o juiz que vai à televisão e pediu para ser o último a falar por ter um estatuto diferente dos outros e não se ter ouvido nesse instante uma gargalhada nacional que até acordasse os espanhóis do seu sono reparador, os pobres que são sempre culpados de serem pobres e portanto merecem que lhes chamemos politicamente nomes feios por o Estado lhes dar umas esmolas que estariam de certeza muito melhor empregues a dar subsídios às piquenas e médias empresas, as piquenas e médias empresas que merecem a atenção de toda a gente pela simples razão de que são na sua esmagadora maioria tão mal geridas que deviam mesmo era desaparecer e deixarem o seu lugar ser ocupado por empresas a sério com salários a sério e produção a sério, o desemprego, a actividade, as expectativas, a confiança, está tudo pintado de cinzento. De negro, não; nós por cá nunca vemos nada negro. Cinzento é que vai bem connosco.
Eu nem peço muito. Só queria que arranjassem um governo que não estivesse obrigado a fazer-se de morto para tentar fazer alguma coisa pela calada da noite ou a coberto do nevoeiro. Um governo que não estivesse permanentemente a contar deputados pelos dedos. Um governo que pudesse colocar as cartas na mesa e deixar-se de palavrinhas mansas. Eu só queria que este país não fosse governado por uma coligação negativa, ainda por cima coadjuvada pela reunião de todos os ódios numa federação bizarra de vale tudo. Se esse governo tiver que ser PCP+PSD+BE+CDS, que seja. Mas não nos obriguem a ficar dois anos com os pés de molho a ler edições antigas do Tarzan, à espera das próximas eleições.

[Primeiro-ministro afasta aumento de impostos em Portugal.]