... que nem tudo os seus poderes podem confiscar.
Este título do Público
Irão: autoridades confiscaram prémio Nobel da Paz da activista Shirin Ebadi.
é enganador.
A mesma notícia é, noutro passo, mais compreensível:
«A activista iraniana dos direitos humanos Shirin Ebadi revelou que as autoridades de Teerão lhe confiscaram a medalha e o diploma recebidos quando foi premiada com o Nobel da Paz em 2003. Os objectos foram retirados de um cofre pessoal num banco em Teerão há cerca de três semanas, no que a Noruega – país sede do comité do Nobel da Paz – avaliou como um acto “chocante e inacreditável”.»
As autoridades iranianas podem roubar certos objectos, uma medalha e um diploma, e isso tem o efeito chocante de representar a falta de respeito dessas autoridades pelo símbolo e pelo simbolizado. Mas as autoridades iranianas não podem roubar o prémio, pelo facto de não serem elas quem tem o poder institucional de atribuir o Nobel. Nem sequer de o tirar. E os humanos, além de serem uma espécie simbólica, são também uma espécie institucional. E, para uma espécie institucional, nem tudo o que parece estar à mão - efectivamente o está. Tal como não retiro a proibição de circular de carro num certo sentido de uma rua por roubar o sinal de trânsito que lá estava a assinalar essa proibição. Vai ser preciso repor o sinal, por razões pragmáticas e por questões de implementação da proibição - mas o sinal e a proibição são coisas diferentes.
Será que as autoridades iranianas percebem isto?