19.10.07

A autoridade moral da natureza (4/6)

Um domínio de problemas que de forma recorrente se tentou iluminar apelando aos ditames da natureza é o que diz respeito à própria organização da sociedade. Tratando do sempre renovado fascínio pelos insectos sociais, tais como formigas, abelhas, vespas e térmitas, (Lustig 2004) evoca Auguste Forel (1848-1931), que considerava que as formigas eram “socialistas por natureza”: motivadas por instintos sociais igualitários e impessoais, desenvolvendo as suas sociedades com base na acumulação de recursos e na divisão do trabalho. Segundo Forel, as colónias de formigas são uma utopia tornada possível pela natureza de cada uma das formigas, tratando cada uma das outras apenas em função da sua utilidade para a comunidade, sem chefes – o que já não seria possível com a natureza humana, demasiado provida de sentido da individualidade. Desse modo, a receita para melhorar a humanidade seria tornar os humanos naturalmente mais parecidos com as formigas – porque, entendia Forel, é na natureza das unidades que se decide a natureza do colectivo.

REFERÊNCIAS

(Daston e Vidal 2004a) DASTON, Lorraine e VIDAL, Fernando (eds.), The Moral Authority of Nature, Chicago, The University of Chicago Press, 2004

(Lustig 2004) LUSTIG, A.J., “Ants and the Nature of Nature in Auguste Forel, Eric Wasmann, and William Morton Wheeler”, in (Daston e Vidal 2004a), pp.282-307



Ilustração de Mémoires pour servir à l'histoire des insectes (tomo V),
de M. de Reaumur, Paris, 1740





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Apontamentos anteriores desta série:

A autoridade moral da natureza (3/6)


A autoridade moral da natureza (2/6)


A autoridade moral da natureza (1/6)