Igreja pode apelar ao voto contra partidos que apoiam casamento entre homossexuais.
Reacção a posição da igreja católica sobre casamento homossexual. Santos Silva apela ao bom senso para que se separe voto e filiação religiosa.
Censos de 2011 vão equiparar uniões de casais homossexuais a núcleos familiares.
Acho que estão errados aqueles que entendem que as igrejas, a católica ou outras, não devem intervir na vida política do país. As igrejas não são colecções de anjos (nem de demónios, que são anjos caídos), são colectivos de pessoas. E, se esperamos que haja cidadania, acho que não devemos excluir ninguém, nem nenhuma organização, dessa cidadania plena. E as igrejas não têm menos interesse, aí, do que outras instituições; e os crentes não devem ter menos direitos, enquanto crentes, do que os outros.
O meu problema nestas tomadas de posição da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) é que a forma do pronunciamento é reveladora. A hierarquia da ICAR não opta por suscitar as questões de princípio, lembrar os seus parâmetros, e esperar (ou apelar) a que os fiéis pensem nisso responsavelmente, contando as inúmeras questões que podem pesar num voto e que não podem todas ser satisfeitas optimamente. Porque as questões são muitas e o voto é único. A hierarquia da ICAR tem a enorme tentação de pensar pelos outros, de dar a receita aos fiéis: quase quase quase diz onde colocar e onde não colocar a cruzinha. Trata os cidadãos católicos como atrasados mentais, como marionetas das suas prédicas. Como se acabassem de descobrir "O" tema de vida ou de morte que tem, nas próximas eleições, de ser bem decidido a favor ou contra a condenação absoluta ou a salvação absoluta do mundo.
Desse modo, mostra duas faces negras ao mesmo tempo: mostra falta de respeito pelos católicos, e por todos quantos se interessam pela palavra da Igreja; mostra a concepção simplista, maniqueísta até, que tem do mundo. O que, nos tempos que correm, é pecado grave. Digo eu, a quem Deus não inspirou para dizer estas coisas.