Sócrates esteve como de costume. Explicou bem o que anda a tentar fazer, concentrou-se no que interessa e deixou os pormenores de lado. Não se percebe muito bem qual é a diferença entre este socialismo e uma democracia-cristã socialmente avançada - mas esse é outro problema. Manifestamente, a uns meses de muitas eleições, o secretário-geral do PS não está interessado em sublinhar ainda mais os sacrifícios que se fizeram e terão de continuar a ser feitos - mas isso é compreensível, porque passou os últimos anos, na prática, a exigir esforço aos portugueses. Aqueles que, dizendo que Sócrates não fala verdade acerca das dificuldades, sugerem que ele pratica demagogia, deviam ter vergonha - não há, pelo menos desde o governo Mário Soares/Mota Pinto, um executivo tão pouco eleitoralista como este.
Alguns dizem que Sócrates não é humilde, porque não confessa os erros. Estará nessas cabeças que o exercício governativo é um exercício intelectual de "consideração teórica do que poderia ter sido se..."? Governar é fazer. Haverá de existir oposição para mostrar como se devia ter feito diferente. Esse é o contraditório que pede a democracia. Não se pode pedir ao governo que governe e ainda faça oposição também. Falta contraditório porque faltam alternativas. E a prova do pudim é comê-lo (apresentar alternativas a julgamento). Mas que isso falte não é culpa de Sócrates. Para desgosto dos que apreciariam o exercício estalinista das "confissões de culpa" para expiação, não é assim que as coisas funcionam em democracia.
Entrevista à SIC. Sócrates: “Tudo aponta para um cenário cada vez mais provável de recessão”.