A única cela ocupada naquele piso (ou seria em toda a cadeia?) era a minha. Entre as sete e meia da manhã e as oito da noite ninguém disse nada, ninguém apareceu, o abandono total doía-me mais do que a fome e a sede. Apesar de vir de uma noite de borga, não consegui dormir o dia todo. Às oito da noite aparece um tipo (seria um guarda? mas estava vestido com um fato de treino ridículo, às riscas pretas e brancas, como uma zebra…) que me olhou sem uma expressão, sussurrou "até qualquer dia" e saiu. Deitei-me e acabei por adormecer. Sentia-me como um elefante doente deitado num quarto de hotel de quinta categoria.
(continua)
Desenho: Ruaz / texto: Porfírio Silva. Clicar para aumentar.