Andamos, apoiados em Geoffrey M. Hodgson, a recensear a crítica institucionalista à teoria económica neoclássica. Resumimo-la em três pontos:
Primeiro, uma crítica do individualismo metodológico;
Segundo, uma crítica da hipótese da maximização;
Terceiro, uma crítica do conceito racionalista de acção.
Hoje passamos ao segundo ponto.
Segundo, temos uma crítica da hipótese da maximização (Hodgson 1988: capítulo 4).
Primeiro, uma crítica do individualismo metodológico;
Segundo, uma crítica da hipótese da maximização;
Terceiro, uma crítica do conceito racionalista de acção.
Hoje passamos ao segundo ponto.
Segundo, temos uma crítica da hipótese da maximização (Hodgson 1988: capítulo 4).
O “homem económico racional” da teoria económica neoclássica tem no centro a ideia de que os agentes, graças a um cálculo racional que tem em conta toda a informação relevante, maximizam um certo resultado expresso num único valor (utilidade ou lucros, por exemplo), o que em geral depende do pressuposto de que os indivíduos fazem uma ordenação consistente das suas preferências, ordenação essa que é transitiva (se A é preferível a B e B é preferível a C, então A é preferível a C) e irreflexiva (para qualquer produto A, A não é preferível a A).
A forma primitiva da hipótese da maximização considera que tal comportamento é consciente e deliberativo: o agente tem consciência do exercício de optimização da sua função de utilidade, tem consciência do leque de alternativas ao seu dispor e das consequências das suas acções, tem consciência de todo o conjunto das suas preferências e da respectiva ordenação; o agente reúne e processa a informação necessária à determinação do curso de acção, procedendo então ao cálculo de probabilidades necessário à maximização da utilidade.
A forma primitiva da hipótese da maximização considera que tal comportamento é consciente e deliberativo: o agente tem consciência do exercício de optimização da sua função de utilidade, tem consciência do leque de alternativas ao seu dispor e das consequências das suas acções, tem consciência de todo o conjunto das suas preferências e da respectiva ordenação; o agente reúne e processa a informação necessária à determinação do curso de acção, procedendo então ao cálculo de probabilidades necessário à maximização da utilidade.
Houve tentativas para assimilar, no quadro neoclássico, a crítica de Simon à versão forte da hipótese da maximização, crítica essa que assentava na noção de racionalidade limitada: “satisfizar” seria um comportamento minimizador de custos, porque recolher toda a informação necessária à maximização teria demasiados custos. Só que essa tentativa falha, porque o problema não é escassez de informação, mas sobrecarga de informação para agentes com poder computacional limitado. No “cubo de Rubic” há mais de 43 triliões de posições iniciais possíveis e um número limitado de formas óptimas (número mínimo de movimentos) para ordenar o cubo para cada posição inicial, mas ninguém resolve o problema calculando esse percurso óptimo: antes se seguem certos procedimentos simples que, sendo suboptimais, são muito mais operacionais para seres que não sejam (como os humanos não são) calculadores perfeitos e ilimitados.
Note-se aqui que na economia neoclássica as noções de racionalidade global e de equilíbrio estão intimamente relacionadas: o equilíbrio, estado em que todos os agentes atingiram o máximo da sua função de utilidade, só é atingido por efeito de um cálculo global e generalizado. No enquadramento da racionalidade limitada o que há são revisões de procedimento à medida que a informação vai sendo disponibilizada e avaliada, cada agente procedendo a essas revisões de forma diferente de outro agente, sem nunca se atingir um equilíbrio óptimo.
Face às críticas massivas que se foram acumulando a esta forma da hipótese da maximização, foram elaboradas formas aparentemente mais sofisticadas. Uma delas é a abordagem das “preferências reveladas”: dispensa-se o pressuposto de que o agente realiza um trabalho introspectivo para determinar as suas preferências e o curso de acção que elas ditam, assumindo-se que as preferências simplesmente se revelam por observação do comportamento do agente. Contudo, mesmo esta versão “objectiva” da hipótese não funciona. Por exemplo, se cada produto tiver vários atributos, qualquer deles serve para ordenar as preferências, possibilitando a manifestação de preferências intransitivas ou reflexivas (considerando, em situações diferentes, diferentes atributos do mesmo produto). Além disso, se os comportamentos revelarem preferências diferentes em momentos diferentes, não se pode determinar comportamentalmente se as preferências mudaram ou se elas são simplesmente inconsistentes. Além disso, persiste a dificuldade de que a ordenação geral de preferências requer conhecimento perfeito do mundo.
Outra tentativa de sofisticar a hipótese da maximização é dar-lhe uma versão evolucionista: as empresas que se adaptaram ao seu ambiente económico agem “como se” maximizassem e sobrevivem; as outras não. Contudo, não tendo sido apresentado nenhum mecanismo evolutivo credível que explique como se atinge o comportamento óptimo, como é que ele é sustentado e transmitido ao longo do tempo, nem como é que se passa essa informação de uma geração de empresas para outra, esta versão da hipótese não pode ser considerada seriamente.
De qualquer modo, em qualquer das suas versões, a hipótese da maximização adere à concepção instrumental da racionalidade: o “homem económico” tem fins que se distinguem claramente dos meios, os fins são determinados fora da economia, o cálculo racional diz respeito apenas aos meios. Só que não é em geral verdade que “os fins justificam os meios”, havendo interdependência entre meios e fins (por exemplo, certos fins nunca chegam a ser adoptados porque implicariam meios inaceitáveis).
De qualquer modo, em qualquer das suas versões, a hipótese da maximização adere à concepção instrumental da racionalidade: o “homem económico” tem fins que se distinguem claramente dos meios, os fins são determinados fora da economia, o cálculo racional diz respeito apenas aos meios. Só que não é em geral verdade que “os fins justificam os meios”, havendo interdependência entre meios e fins (por exemplo, certos fins nunca chegam a ser adoptados porque implicariam meios inaceitáveis).
(continua)