30.9.08

a líder da confusão



Samuel Salcedo, Speaker, 2007


A presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, lamenta que o primeiro-ministro não tenha vindo mais cedo deixar uma palavra de serenidade perante a crise nos mercados internacionais e criticou declarações de responsáveis do Governo que “diabolizaram” o sistema financeiro.


De facto, mais vale estar calada do que abrir a boca só para dizer disparates. Fala pouco mas acha que o primeiro-ministro deve falar depressa e, se calhar, de cor: mesmo agora tenho dúvidas de que Sócrates ou os seus ministros económicos possam saber com rigor qual é a solidez do sistema financeiro português (será que os prevaricadores vão a correr confessar-se?), mas a senhora acha que o homem devia ter-se precipitado a dar as garantias que não tinha. E Ferreira Leite, além disso, ainda acha que se anda a diabolizar o sistema financeiro - mas, diabolizar?! Quem causou esta marosca toda? Cometeram-se crimes em catadupa - roubar à grande e à americana, sabe a senhora? Ou, se até agora parecia que só sabia de finanças, agora mesmo nesse campo passou ao puro disparate apenas para ver se debita mais decibéis do que um tal Menezes?

o rosa rubro e os famélicos de todo o mundo


Sócrates assegura que famílias portuguesas com poupanças podem estar tranquilas. O primeiro-ministro responsabilizou os Estados Unidos e sustentou que Washington tem a obrigação de tomar medidas para suster a propagação da crise.


Os republicanos da América andaram muito tempo a marimbar-se para o equilíbrio das contas públicas. Bush foi um tolo gastador. Mas agora descobrem-se contrários a gastar tanto dinheiro para tentar salvar os prevaricadores. Nesse ponto se calhar até têm alguma razão. Não faz sentido pensar, como também já se pensou em Portugal, que todos os problemas se resolvem deitando-lhes dinheiro para cima. Porque não resolvem.

Mao, Mao


Comissão Europeia acusa EUA da crise financeira mundial.


A Europa da União pode até estar relativamente menos corroída por práticas desviantes do capitalismo financeiro, mas parece deslocada qualquer arrogância face aos EUA. No fundo a tendência dos governos da UE e do executivo de Bruxelas é a mesma de todos os apóstolos do capitalismo: assenta na crença na existência e virtudes da ordem espontânea e na confiança de que o princípio "seja o que Deus quiser" é o mais adequado aos bonitos olhos azuis dos financeiros.
Na verdade, desde o Mercado Único Europeu, e especialmente desde o Plano de Acção para o Sector Financeiro (1995), a Europa tem trilhado, neste campo, um caminho onde se nota menos a integração positiva (estabelecimento de enquadramentos regulatórios comuns no espaço europeu) e onde prevalece a integração negativa (desmantelamento dos mecanismos de regulação nacional).
Assim estando as coisas, com a colaboração de todas as grandes famílias políticas (incluindo os socialistas), não parece ajuizado estar a apontar o dedo aos americanos, como se eles fossem - descontados o crime financeiro puro e duro, que talvez seja menos frequente na Europa - como se eles fossem "outro mundo", "pecadores" de "pecados" que por cá não se cometem.
Chegou o tempo de ver de que nos serve ter um ex-maoísta à frente da Comissão Executiva da União Europeia.
(Falta um ponto de interrogação no fim da frase anterior...)

caminhante passivo dinâmico (ou "o corpo é que paga")

Acredita mesmo que a inteligência está (apenas) "dentro da cabeça", no cérebro, no sistema de controlo ou lá no que se chame a isso? Então talvez queira perceber o interesse que tem o vídeo que se segue.





Pelo menos desde 1888 que existem tentativas documentadas para fabricar “brinquedos ambulantes”, isto é, brinquedos com a forma de um pequeno humano (ou mesmo de outros animais) que seriam capazes de “andar”, sem qualquer motor, apenas devido às características construtivas de tais objectos e à acção das forças físicas (como a gravidade) exercidas sobre eles.

Na segunda metade da década de 1980, supostamente inspirado por uma versão mais recente de um desses brinquedos, o engenheiro aeronáutico Tad McGeer desenvolveu uma versão mais sofisticada, implicando cálculos complexos dos muitos factores em causa. É o que agora se conhece como Caminhante Dinâmico Passivo. Trata-se “apenas” de um robot com duas pernas (mais exactamente, apenas duas pernas ligadas por um eixo), sem qualquer motor, sem sensores, sem qualquer programa para executar, sem qualquer tipo de computação daquela que estamos habituados a verificar existir nos “animais artificiais” da IA e da robótica. Os pés têm a forma de segmentos de arco para facilitar o “andar”.




Imagens do “Brinquedo Ambulante” de George T. Fallis, constantes da Patente 376.588 (USA), de 1888 (segundo cópia disponibilizada no sítio de Andy Ruina, do Laboratório de Bio-robótica e Locomoção da Universidade de Cornell).


Muitas versões físicas deste Caminhante reproduzem um tipo de passada que realmente faz lembrar um humano – apenas sendo deixadas livremente num plano ligeiramente inclinado.


Um modelo simples do Caminhante Dinâmico Passivo, tal como concebido por McGeer.





Dynamite, um modelo com joelhos construído por McGeer. As pernas têm uma altura de 80 cm e pesam um pouco mais de seis quilos. (Foto in McGeer 1992)



Um modelo mais recente construído por Martijn Wisse.


Na primeira versão apresentada (McGeer 1990a), as pernas do Caminhante Passivo Dinâmico não eram articuladas, mas os princípios estavam já explícitos. A Figura 1 desse texto (que se reproduz), incluindo a respectiva legenda, era muito clara acerca do que estava em causa: o que ditava o comportamento daquele par de pernas capaz de andar (numa ligeira descida) eram as características físicas daquele corpo e as forças físicas que sobre ele se exerciam devido a essas características e a encontrar-se num dado ponto do universo regido pelas leis da mecânica newtoniana. Pouco depois (McGeer 1990b), o engenheiro já tinha concebido um modelo com “joelhos”. A ilustração que se junta, bem como a respectiva explicação original, deixam claro que o caminhar se traduz na repetição de um “ciclo”. McGeer usa, assim, um conceito típico da teoria dos sistemas dinâmicos (um “ciclo limite” é um tipo de “atractor”, uma região do “espaço de estados” de um sistema para a qual tendem a ser levados os comportamentos desse sistema).


Esquema das forças que moviam o primeiro Caminhante Passivo Dinâmico. Nesta versão as pernas ainda não tinham “joelhos”. (Figura 1 in McGeer 1990a).




O modelo com joelhos (Figura 2 in McGeer 1990b). Esta imagem e a respectiva legenda original deixam claro que estamos perante um “ciclo”, que se repete de tantos em tantos segundos durante a caminhada.


A importância que este sistema tem para a questão do papel da morfologia na cognição é bem resumida por Fernando Almeida e Costa: “O caminhante dinâmico passivo é um exemplo extremo do trade-off entre controlo e morfologia. O controlo em sentido clássico é completamente substituído pelas dinâmicas que resultam de propriedades morfológicas do robô, como a forma e o peso das suas componentes, e as leis da física. Por outro lado, o comportamento do sistema resulta do seu estar-situado (…) e do acoplamento em tempo contínuo entre as propriedades do corpo e as do meio” (Costa 2001:8-9). Trata-se de considerar que muito do que dizemos ser “inteligência” está no corpo, não na mente (no software, no programa, no sistema de controlo,…). Está aí a razão para considerar que a robótica do desenvolvimento não pode ser inteiramente consequente com o seu programa sem dar mais atenção às dinâmicas que a morfologia encerra.


REFERÊNCIAS

(McGeer 1990a) McGEER, Tad, “Passive Bipedal Running”, in Proceedings of the Royal Society of London, Series B, Biological Sciences, 240 (1297), pp. 107-134

(McGeer 1990b) McGEER, Tad, “Passive walking with knees”, in Proceedings of the IEEE International conference on Robotics and Automation, 3, pp. 1640-1645

(McGeer 1992) McGEER, Tad, “Principles of walking and running”, in ALEXANDER, R. McN. (Ed.), Mechanics of Animal Locomotion (Advances in Comparative and Environmental Physiology, Vol 11), Berlim e Heidelberg, Springer-Verlag, 1992, pp. 113-139

(Costa 2001) COSTA, Fernando Almeida e, "Evolução, morfologias e controlo em sistemas artificiais: para além do paradigma computacional", in Análise, 22, pp. 65-93

29.9.08

pergunta a Barroso

imaginação...

noite dos investigadores


Escreveu-se aqui, na quinta-feira passada, que na sexta-feira estaríamos na "noite dos investigadores". E prometemos contar depois o que lá andaríamos a fazer. Cumprimos aqui e agora essa promessa.





Fomos fazer uma demonstração de uma experiência no âmbito de um projecto. O projecto chama-se "Robótica Institucionalista", está a decorrer no Instituto de Sistemas e Robótica (Instituto Superior Técnico) e teve a sua origem "remota" na minha tese de doutoramento em Filosofia da Ciência. Trata-se de procurar uma nova abordagem à Robótica Colectiva. A experiência consiste em tentar que um grupo de robots "compreenda" o enquadramento social ligado a um cenário de tráfego urbano e seja capaz de se comportar razoavelmente nele.



Usamos um cenário com um mini-segmento de um sistema de tráfego urbano (o cenário da demonstração é muito, muito minimalista).


Usamos uns pequenos robots designados por e-pucks.



Para demonstração só mostramos os robots a executarem autonomamente dois comportamentos básicos (evitamento de obstáculos e seguimento de paredes) e a usarem apenas uma gama dos sensores de que dispõem (só usam infravermelhos).


Para que saibam que não é fácil a vida dos robots, convidamos os circunstantes a "conduzir" um robot (controlando-o com o computador, via bluetooth) tentando dar uma volta a uma das rotundas do cenário, mas usando apenas a informação captada pela câmara frontal do robot para saberem o que se está a passar (evitando, portanto, olhar directamente para o cenário).


O Zé Nuno é que fez toda a despesa de explicar a experiência aos visitantes, no que foi muito eficaz e simpático.


O evento começou pelas 14 horas, suavemente... mas durou até depois da meia-noite, com muitos visitantes: um fluxo contínuo bastante forte a partir das 18.30.


Prova-se assim que, com uma "instalação" sem nenhuma sofisticação exagerada (só os robots e a ideia são sofisticados!!!) consegue-se transmitir um pouco do que fazemos em robótica colectiva.


Para não assustarmos (nem desiludirmos) os visitantes, não esclarecemos que quem estava ali a apresentar aquela experiência não eram engenheiros. Tratava-se de um matemático e um filósofo...


Alguns dos visitantes não terão percebido nada da explicação, mas mesmo assim tiveram direito à sua quota parte de fascínio!



Reproduzimos de seguida o texto de apresentação da experiência que foi distribuído no decurso da "Noite dos Investigadores".





Podemos partilhar as ruas com robots?

Será que podemos andar nas ruas das nossas cidades, a pé ou conduzindo algum tipo de veiculo, partilhando esse espaço com robots autónomos móveis? Poderão humanos e robots partilhar os mesmos espaços, interagindo de forma sofisticada no respeito por normas sociais que nós humanos consideramos razoáveis?

Robótica Institucionalista: Inteligência Social para Máquinas

O Deep Blue fez história ao tornar-se (em 1997) o primeiro computador a vencer no xadrez um campeão mundial da modalidade num encontro organizado de acordo com as condições tradicionais de torneio. A robótica colectiva tem levado os desafios mais longe ao colocar múltiplos robots em interacção entre si e com o mundo físico.

Algumas linhas da robótica colectiva procuram inspiração biológica, por exemplo recorrendo a inteligência de enxame, modelada a partir da robustez e flexibilidade com que colónias de insectos sociais, como certas formigas, certas abelhas ou certas vespas, realizam certas actividades complexas apenas com base em interacções simples entre comportamentos individuais geneticamente instalados. Mas a robótica colectiva tem mais recentemente procurado inspiração também nas ciências da sociedade. O projecto "Robótica Institucionalista" é um desenvolvimento recente do trabalho que o Instituto de Sistemas e Robótica (Instituto Superior Técnico) tem vindo a realizar há vários anos em torno das "sociedades artificiais", procurando agora mais explicitamente integrar conceitos das ciências sociais. A Robótica Institucionalista concebe as instituições como centrais em qualquer sociedade sofisticada - mesmo que também haja robots nessa sociedade!

O objectivo desta experiência é compreender como é que robots e humanos podem desenvolver actividades num ambiente partilhado. Como é que os robots saberão como comportar-se? Como é que os humanos saberão como lidar com os robots? Teremos nós de aprender novas regras para convivermos em "sociedades artificiais"? Procuramos fazer com que os robots usem as mesmas normas, as mesmas rotinas, as mesmas indicações que os próprios humanos estabelecem para seu próprio uso nos seus ambientes. Desse modo, os humanos poderão interagir com eles sem uma aprendizagem especifica, de forma "natural".

O cenário social em que estamos a trabalhar é, para já, muito limitado. O objectivo é termos robots capazes de comportar-se como condutores de automóveis num cenário urbano. Para isso terão de conhecer, nomeadamente, as normas constantes do código da estrada, os sinais que regulam o trânsito, os agentes com autoridade nesse contexto (polícias de trânsito) - mas também certas normas mais gerais (respeitar a integridade dos outros, por exemplo). Os pequenos robots que utilizamos (os e-pucks) deverão ser capazes de respeitar - mas também de não respeitar! - esse ambiente institucional. Sabendo, por exemplo, que penalizações podem resultar de obedecer ou desobedecer a certas prescrições.
Esta experiência está numa fase inicial. O que se mostra aqui é ainda apenas o problema: como podemos tornar estes robots capazes de se comportarem de forma civilizada ao volante ¬sabendo que mesmo levar os humanos a fazer isso não é fácil?


26.9.08

os ricos que paguem a crise


Ainda não há compromisso político para atacar a crise em Wall Street.


«Privatizar os lucros, mas socializar os prejuízos: esta tem sido a regra, em quase todo o mundo, quando se assiste a ciclos de expansão rápida do sistema financeiro, seguidos de quedas abruptas e perdas quase incontroláveis. Um estudo publicado este mês pelo Fundo Monetário Internacional revela que, em média, nas mais de cem crises bancárias detectadas durante as últimas três décadas, o custo suportado pelos contribuintes para estabilizar e evitar as falências foi de 13,3 por cento do PIB dos respectivos países. E em algumas economias o valor atingido chegou mesmo a superar os 50 por cento.»
(do suplemento Economia do Público de hoje, página 5)

Bancos centrais da Europa e EUA injectam mais dinheiro nos mercados.


Vivamente aconselho: ler quem deve ser lido, nesta matéria em que é essencial escutar quem sabe do que está a falar: LADRÕES DE BICICLETAS.

piscadela de olho ao pessoal da Inteligência Artificial

09:00


A quem estaria o Matthijs a explicar a ideia do mundo dos blocos?
(clicar para ampliar)

25.9.08

há azar?

noite dos investigadores


Amanhã, numa tenda montada nas traseiras do Centro Cultural de Belém, a partir das 14 horas e até à uma da manhã, decorre a "Noite dos Investigadores". Trata-se de uma actividade de divulgação da ciência a decorrer simultâneamente em vários pontos de todos os países da União Europeia. Aí estarão a decorrer experiências científicas, exposições e outras acções de contacto com a ciência e com os cientistas. Também há actividades a decorrer em outros pontos da cidade e em outros pontos do país - e em mais 200 cidades europeias.
Nós estaremos lá com uma pequena experiência de robótica... mas isso depois contamos.

Mais informações, disponibilizadas pela própria organização, clicando aqui.


Desenho anatômico de útero com feto feito entre
1510 e 1512 por Leonardo da Vinci (1452-1519)

um PSD ganhador


Novo Estatuto Político-Administrativo dos Açores aprovado por unanimidade. PSD vota a favor mas considera que contém inconstitucionalidades e anuncia que vai pedir a fiscalização sucessiva da constitucionalidade do diploma.


Ainda dizem que o PSD de Ferreira Leite não se esforça para ganhar eleições. Claro que esforça: vota a favor mas despoleta os mecanismos que permitam uma eventual declaração de inconstitucionalidade. Jogar em dois carrinhos ao mesmo tempo não é sinal de esforço para ganhar eleições?

estados baralhados da américa


Não me parece justo que se brinque com a capacidade política de Sarah Palin como candidata a vice-presidente dos EUA. Ela disse logo numa das suas primeiras intervenções que não era uma política, apesar de ser governadora de um estado e muitas outras coisas. Mas isso não é qualquer estupidez dela. O seu candidato a presidente, John McCain, é que dá o tom. Como se vê agora: a ideia de "suspender a campanha" para ir dar uma mãozinha ao ainda Presidente no assunto do plano de emergência para salvar o sistema financeiro - nem o nosso inefável Pedro Santana Lopes se lembraria de uma popularice tão ordinária.
A tentação é sempre a mesma: eu não faço política, eu trabalho pelos interesses da nação, só me rebaixo a fazer política quando os outros me obrigam, campanhas eleitorais são um mal necessário que se "suspendem" logo que possível. A hipocrisia em estado puro. E a completa falta de lógica: em tempo de campanha, tudo o que se faz é campanha. "Suspender a campanha" é acreditar que o seu eleitorado potencial é suficientemente burro para não compreender isso.
Haverá alguma garantia de que depois deste Bush não virá nada pior?



(Clicar para aumentar. Cartoon de Marc S.)

grafitos de braga





(Fotos de Porfírio Silva. Braga, Setembro de 2008.)

24.9.08

os apóstolos do costume


Pascal Lamy (OMC): proteccionismo não é resposta para a crise financeira.


Os do costume o que querem é evitar que alguém pare para pensar. Divisão social do trabalho: enquanto os especuladores que meteram a pata na poça estão a digerir o que os Estados gastaram a salvá-los, outros tratam de evitar que alguém consiga mudar alguma coisa. Mas seria bom dedicar mais algum tempo a explicar a relação entre "abertura dos mercados a toda a força" e "desregulação com consequências à vista". Não é que eu seja proteccionista, mas o abuso continuado de slogans simplistas pode causar desinteria.

como (não) se faz um santo (nos altares)

espelho meu


Confrontos entre grupos de jovens originaram cena de justiça popular em Alhos Vedros.


Claro, tirando os mais desavergonhados, todos vão lamentar mais esta explosão de justiça popular.
Mas essa imensa maioria vai continuar a babar-se com fugas ao segredo de justiça sobre X ou Y que está mesmo mesmo quase a ser constituído arguido, sobre Z ou W que não foi condenado só porque "os poderosos safam-se sempre" e contudo no entanto mesmo assim de qualquer modo há-de ser sempre culpado aos nossos olhos omnividentes que estão bem abertos, sobre sicrano e beltrano que foi destruído pelo circo mediático e pela indústria do jornal em papel higiénico mas é bem feito porque são todos iguais.
É assim articulado o populismo banal que comemos todos os dias, por exemplo nas caixas de comentários de jornais respeitáveis, como o Público, que evitam filtrar essas porcarias populistas para não perder leitores - esquecendo que assim passam a mensagem de que essa justiça popular é louvável a ponto de poder constar no sítio de jornais de referência na rede. Cúmplices, pois.
Mas, em Alhos Vedros, aí é que não. Não abusemos, caramba. Em Alhos Vedros, não!

angariadores


Cavaco angaria apoios para candidatura de Portugal ao Conselho de Segurança da ONU.


E Sócrates angaria vendedores de petróleo que aceitem troca por bicicletas de Sangalhos. Afinal, sempre é verdade que a infraestrutura económica determina a superestrutura política...

Ou então: a nova economia globalizada está cada vez mais parecida com o mercado medieval... o que sempre alimenta a esperança de que se possa voltar a um tempo sem moeda, permitindo extirpar o cancro financeiro.

23.9.08

meu querido portugal


Governo em peso nas cerimónias de entrega dos primeiros Magalhães a crianças do 1º ciclo.


Portugal vai ser pioneiro a nível mundial no aproveitamento da energia das ondas.


Há sempre críticos para tudo. "Computador português? Isso é fácil e não é todo feito cá." "Energia das ondas? Se calhar foi o ministro que descobriu o processo, não?!" Claro, se a economia americana espirra, a culpa é do governo português. Mas, se a economia portuguesa é empurrada, literalmente empurrada, para ir mudando pouco a pouco o seu padrão de especialização no mercado internacional, é obra e graça do Espírito Santo. Semear a descrença e o negativismo é o método dos que alguma coisa têm a ganhar com o baixar de braços. Esses conhecem o país e sabem que estão melhor servidos enquanto a sua "luminância intelectual" continuar a parecer grande apenas à custa de umas quantas atoardas.

22.9.08

BD, história, política


Não é novidade, porque andava há vários anos a sair, mas agora aparece toda uma época reunida num único volume. Falamos da banda desenhada MARZI, escrita por Marzena Sowa e desenhada por Sylvain Savoia.
Marzena Sowa volta à pele da infância e conta como uma rapariguinha via a Polónia dos anos 80 do séculos passado, com o comunismo e as suas peripécias, a oposição do sindicato Solidariedade ao regime, e mil e uma coisas que só uma criança vê.



Capa do volume que reúne os anos 1984-1987. A seguir, duas pranchas do mesmo álbum. (Todas as imagens deste post podem ser ampliadas: clicando sobre elas.)





Este álbum, saído este mês neste formato em francês, reúne três álbuns.
O primeiro, intitulado Petite carpe, introduz Marzi, rapariguinha polaca de 7 anos nacida em 1979, que observa o quotidiano e nos dá a ver certas coisas que podem parecer estranhas. «Antes, havia árvores, paisagens selvagens onde o homem não intervinha. Estaline decidiu "corrigir" esse espaço. E agora, em vez de árvores, há casas de cimento por todo o lado. Estaline mandou construir uma fábrica, graças à qual muitas pessoas encontraram trabalho, entre elas o meu pai.»
A seguir, duas pranchas do que foi o primeiro álbum.




O segundo álbum, intitulado Sur la terre comme au ciel, leva Marzi mais e mais para dentro das complicações da vida: desde o estado de guerra declarado para tentar salvar o regime, até ao encontro com concepções religiosas com as quais é difícil de lidar - "pecado", por exemplo.
A seguir, capa e duas pranchas do que foi o segundo volume.







O terceiro álbum, intitulado Rezystor, leva Marzi para novas descobertas, que felizmente outras crianças nunca chegaram a fazer: racionamento alimentar, por exemplo. Mas isso, enquanto política, não é o mais importante na vida de qualquer rapariguinha. Mais premente será, por exemplo, o cãozinho novo. Contudo, a Polónia real não era só essas doçuras de criança. O título do álbum, que em polaco quer dizer "resistência", no sentido de resistência eléctrica, uma pequena peça, era o sinal de reconhecimento mútuo usado pelos operários que clandestinamente se opunham ao regime comunista. Guardavam a resistência no fundo dos seus bolsos para se poderem identificar como resistentes, como membros da resistência.
A seguir, capa e pranchas do que foi o terceiro álbum.







E agora temos isto tudo junto, num único volume. Continuam a sair mais álbuns, mas já está prometido, para daqui a um ano (Setembro de 2009), um volume com o período 1987-1989. Para já, vamos lendo este.

Ver as caras: abaixo, à esquerda, Marzena Sowa. À direita, Sylvain Savoia.



Tudo isto constitui um convite: vamos ler. BD é cultura.

(Os meus agradecimentos à amorosa senhora que me ofereceu o álbum.)

18.9.08

ler a crise

20:12

Have You a Wrong Way Brain?
a arrogância dos "cirurgiões sociais" não é nova...



Popular Science, Julho de 1939
(clicar para aumentar)



«Can new discoveries about the brain reclaim a million criminals? Can psychological research cut America’s crime bill in half? Can scientists, using drugs and surgery, eliminate dishonest impulses from the minds of crooks?

Questions like these may sound fantastic. Yet developments of recent weeks bring them to the fore. One of the most famous psychiatrists in the world, Dr. Carleton Simon, of New York City, has just announced a revolutionary new theory which may help science control criminal tendencies.»

Daqui.

17.9.08

where is walli?? (math version)

09:00


(um quadro branco num corredor do Instituto Gulbenkian de Ciência, Oeiras)
(clicar para aumentar)

15.9.08

Porto-Lisboa em 4600 milhões de anos


Não, este apontamento não é sobre a minha viagem de hoje, em automóvel entre Lisboa e Braga por auto-estrada, com uma boa meia dúzia de zonas de obras com estreitamento de faixa e velocidade reduzida. Não, trata-se de coisa bem mais interessante.

No Ciência ao Natural encontra-se um post de grande interesse. É informativo, para quem tem curiosidade pelo que a ciência sabe. Mas nem é bem por isso que o destaco. É por nos lembrar a importância que tem a forma como dizemos as coisas - não apenas o conteúdo, mas também a forma. Especialmente quando tentamos ensinar, e quando os que ensinamos talvez não sejam as criaturas mais curiosas do universo, ou talvez simplesmente tenham muito em que pensar.


A ideia de base é como segue:
«Imaginemos uma realidade bem conhecida – viagem entre duas cidades do nosso país, Porto e Lisboa – pela auto-estrada.
Agora comparemo-la com os acontecimentos biológicos e geológicos do nosso planeta (desde a formação do planeta – Porto - até à actualidade - Lisboa).
A distância percorrida nesta viagem comum – 300 km – vai ser proporcional à idade da Terra, i.e., partimos do Porto (0 km) ao mesmo tempo que o nosso planeta é formado (4600 milhões de anos - MA).»

O resto é ir lá e ler. Clicando em Porto-Lisboa em 4600 milhões de anos. Note-se que isto é um conselho.

avaliação contínua


Na exposição que Lisboa teve oportunidade de ver neste ano de 2008 sobre José Saramago, que apreciámos pelo seu conteúdo e por não ter ficado para depois do falecimento do senhor, havia um pormenor curioso. Um pormenor que mostra como algumas coisas que se tornaram tão difíceis, complicadas, complexas, rebuscadas, inalcançáveis, trabalhosas, impraticáveis, a rondar a impossibilidade lógica - já em tempos recuados foram simples e realizáveis.

Falamos do caderno onde o Sr. Vairinho, o mestre do agora Nobel português da Literatura, anotava dia a dia o desempenho do aluno que então dava pelo nome de José de Sousa. Contemplando diversas matérias. Com tão sofisticada tecnologia se fazia, nesse distante ano de 1933, avaliação contínua.

Coisa que agora alguns apontam como próprio das inúmeras cabeças de um monstro peludo.










(Fotos de Porfírio Silva)

13.9.08

uma prenda...

... para os que odeiam as campanhas anti-tabágicas.


Modern Mechanix, Novembro de 1931

12.9.08

um político entre políticos



Cavaco Silva: "Posso vetar politicamente o Estatuto dos Açores depois de corrigido das inconstitucionalidades".


PSD/Açores mantém posição sobre alterações ao Estatuto Político-Administrativo da região. José Manuel Bolieiro (PSD/Açores) adiantou, ainda, que o "PSD não comenta o sentido de oportunidade de entrevistas", a menos de dois meses das eleições regionais de 19 de Outubro.


CDS-Açores: Cavaco Silva está a servir de "catalisador para os centralistas".


Açores: PS garante que alterações que introduziu respeitam as competências do Presidente da República.



Será desta que Cavaco percebe que é um político como muitos outros? Ou ele já sabe disso há muito tempo mas disfarça bem?

(Isto não quer dizer que ele não possa ter razão. Como muitos outros políticos têm também muitas vezes razão. Só acho interessante que o homem desta feita aceite "misturar-se" com uma "classe" a que, pertencendo, gosta de fazer de conta que mantém à distância. Até já confessa que conversou com dirigentes partidários, vejam lá: e eu a pensar que ele só conversava com anjos.)

política de todos os dias


Cavaco Silva: "Posso vetar politicamente o Estatuto dos Açores depois de corrigido das inconstitucionalidades".


Cavaco Silva, que sempre pensou existir por direito próprio num plano supra-político, numa extra-territorialidade quase-angelical, plano no qual só ele caberia e onde não poriam os pés "os políticos", impuros e descartáveis - está cada vez mais enredado na política de todos os dias. E já a sua proverbial "candura do Pulo do Lobo" começa a estalar: já não lhe chega fazer de conta que não viu, não ouviu, não disse nada. Sigo com curiosidade, expectativa mesmo, esta história de descida aos infernos...

nova arte chinesa



A propósito de uma visita, em férias, a uma exposição de que aqui falaremos um destes dias, damos uma olhadela a um trabalho de um duo de artistas chineses dos nossos dias. "Dos nossos dias" por serem de agora. "Dos nossos dias" por dizerem coisas que podemos ouvir com os nossos próprios interesses e não "para saber o que andam os chineses a fazer".




Sun Yuan e Peng Yu, Old Persons Home, 2007.
Treze esculturas em tamanho natural, movendo-se em cadeiras de rodas eléctricas com dinâmica autónoma.


"Gente" com ar de ter sido importante, lembrando figuras políticas de topo a nível internacional, vagueando impotentes em cadeira de rodas num asilo de velhos. Abaixo, detalhes de uma das realizações da obra. (São mesmo estátuas nas cadeiras de rodas...)




Uma nova conferência de Yalta?



Um intervalo de uma cimeira da ONU?



Participantes de um Conselho Europeu?



Uma diligência diplomática?




Os efeitos colaterais do esforço de governar?



Caídos da cadeira a quem também ninguém disse nada?



As mãos que mexem os cordelinhos?



Ou as mãos mexidas pelos cordelinhos?



O sono dos justos?



Ou o sono que a justiça impôs?



E assim vai o mundo.




Ou será só ficção? Será só arte?