22.9.08

BD, história, política


Não é novidade, porque andava há vários anos a sair, mas agora aparece toda uma época reunida num único volume. Falamos da banda desenhada MARZI, escrita por Marzena Sowa e desenhada por Sylvain Savoia.
Marzena Sowa volta à pele da infância e conta como uma rapariguinha via a Polónia dos anos 80 do séculos passado, com o comunismo e as suas peripécias, a oposição do sindicato Solidariedade ao regime, e mil e uma coisas que só uma criança vê.



Capa do volume que reúne os anos 1984-1987. A seguir, duas pranchas do mesmo álbum. (Todas as imagens deste post podem ser ampliadas: clicando sobre elas.)





Este álbum, saído este mês neste formato em francês, reúne três álbuns.
O primeiro, intitulado Petite carpe, introduz Marzi, rapariguinha polaca de 7 anos nacida em 1979, que observa o quotidiano e nos dá a ver certas coisas que podem parecer estranhas. «Antes, havia árvores, paisagens selvagens onde o homem não intervinha. Estaline decidiu "corrigir" esse espaço. E agora, em vez de árvores, há casas de cimento por todo o lado. Estaline mandou construir uma fábrica, graças à qual muitas pessoas encontraram trabalho, entre elas o meu pai.»
A seguir, duas pranchas do que foi o primeiro álbum.




O segundo álbum, intitulado Sur la terre comme au ciel, leva Marzi mais e mais para dentro das complicações da vida: desde o estado de guerra declarado para tentar salvar o regime, até ao encontro com concepções religiosas com as quais é difícil de lidar - "pecado", por exemplo.
A seguir, capa e duas pranchas do que foi o segundo volume.







O terceiro álbum, intitulado Rezystor, leva Marzi para novas descobertas, que felizmente outras crianças nunca chegaram a fazer: racionamento alimentar, por exemplo. Mas isso, enquanto política, não é o mais importante na vida de qualquer rapariguinha. Mais premente será, por exemplo, o cãozinho novo. Contudo, a Polónia real não era só essas doçuras de criança. O título do álbum, que em polaco quer dizer "resistência", no sentido de resistência eléctrica, uma pequena peça, era o sinal de reconhecimento mútuo usado pelos operários que clandestinamente se opunham ao regime comunista. Guardavam a resistência no fundo dos seus bolsos para se poderem identificar como resistentes, como membros da resistência.
A seguir, capa e pranchas do que foi o terceiro álbum.







E agora temos isto tudo junto, num único volume. Continuam a sair mais álbuns, mas já está prometido, para daqui a um ano (Setembro de 2009), um volume com o período 1987-1989. Para já, vamos lendo este.

Ver as caras: abaixo, à esquerda, Marzena Sowa. À direita, Sylvain Savoia.



Tudo isto constitui um convite: vamos ler. BD é cultura.

(Os meus agradecimentos à amorosa senhora que me ofereceu o álbum.)