31.5.14

com a democracia não se brinca.


António José Seguro, secretário-geral do PS, deu hoje uma entrevista à TVI (Judite de Sousa). No seu conjunto, a entrevista é um caso de estudo, pelo comportamento geral de AJS, pelo número de vezes que se referiu a António Costa e pela forma como falou dele, por um tipo de discurso que me dispenso de qualificar em toda a sua extensão. Quero, de tudo aquilo, chamar a atenção apenas para um aspecto: Seguro explicou a verdadeira razão para ter avançado com aquelas propostas sobre as primárias para o candidato a primeiro-ministro. Deixo o excerto vídeo abaixo, mas transcrevo o essencial para facilitar a reflexão sobre o que verdadeiramente foi dito.

Judite de Sousa – António José Seguro, gostava que me esclarecesse o seguinte. Quando defende e vai propor eleições primárias para a escolha do candidato do PS a primeiro-ministro, admite que possa existir um secretário-geral e uma outra pessoa como candidato a primeiro-ministro em 2015? (…)
António José Seguro – (…) Esta é uma situação nova, surgiu um problema na terça-feira, a minha responsabilidade como líder foi encontrar uma solução para o problema. Podia ser uma solução interna ou uma solução como a que apresentei. Eu optei por esta solução: abertura à participação dos eleitores.

Quer dizer: António José Seguro afirma (confessa) que avançou com a ideia das primárias para escolher o candidato a PM para resolver o problema interno, o problema da liderança. Aquilo que devia ser responsabilidade e reflexão sobre pontos essenciais da melhoria da qualidade da democracia, acaba por ser usado como mero truque para tentar salvar um lugar político. (Diz que pediu à Presidente do Partido para fazer um estudo de direito comparado, sobre o assunto, numa semana.) Não surpreende: tinha de haver uma explicação para atirar para cima da mesa, apressadamente, aquilo que antes rejeitou (quando foi proposto por Assis) e que no último congresso impediu que se discutisse.

É lamentável. Com a democracia não se brinca. A necessária reforma das instituições democráticas não pode ser usada para fins particulares.