Estamos já todos encharcados de piadas "subtis" explorando a coincidência terminológica entre o Euro (moeda, zona monetária) e o Euro (campeonato europeu de futebol), com as para-notícias de que o país tal saiu do Euro, que este empurrou aquele para fora do Euro, que o Euro acabou para... Agora, há uma concentração de atenção no mata-mata de hoje entre a Alemanha e a Grécia, que vai muito para lá da solidariedade portuguesa com o treinador Fernando Santos da equipa grega ou do despeito português contra uma Grécia que nos roubou (supõe-se que injustamente, atentos os méritos relativos) a possibilidade de sermos campeões europeus em festa recente, ainda por cima organizada por nós. Já há quem peça ou anseie por uma solução cósmica, querendo umas meias-finais apenas para PIGS (países aflitos, descarada ou encobertamente, contando Portugal, Espanha, Grécia e Itália). Enfim, com este Euro "a poesia está na rua" (que a poeta me perdoe o abuso).
Tudo isto para dizer o quê? Vejam bem que não há só realidades brutas ao cimo da Terra; que o simbólico por vezes toma o freio nos dentes e produz discursos que pelos séculos dos séculos se tornarão cada vez menos escrutináveis pela antropologia positiva; que encontramos, uma vez ou outra, um descanso momentâneo num pequeno sono da razão. Deliramos e, por uma vez, não ficam cicatrizes: assim espero, para o momento de acordar.