3.6.12

Cosmopolis, um Cronenberg vazio.



Sou um admirador antigo e persistente do realizador David Cronenberg. Já aqui escrevi várias vezes sobre o seu trabalho, nomeadamente: O filósofo Cronenberg, Promessas Perigosas, Um Método Perigoso.

Ontem fui ver Cosmopolis, o mais recente Cronenberg. E só posso dizer que achei uma porcaria. Um filme que, de tanto ser sobre o nihilismo contemporâneo, é ele mesmo um filme nihilista. Um filme que se compraz no vazio. Uma enchente de lugares-comuns, uma correria de banalidades, mal embrulhadas e ditas com a mesma profundidade filosófica de qualquer taxista de Lisboa. Não é de espantar: se tanto cientista social, arregimentado nas melhores cátedras de todo o mundo, não foi capaz de prever a desordem que vivemos na nossa sociedade, e ainda menos capaz é de propor um diagnóstico (já nem digo uma saída), por que carga de água teria um cineasta de ser capaz de o fazer? O que Cronenbeeg poderia era ter-nos poupado ao espectáculo da vacuidade, que não é só sua, mas é dominante quando de trata de falar da cidade contemporânea como arena do nosso esvaziamento civilizacional.