12.1.11

o aprendiz de Passos Coelho

Steven Meisel, Human robots

Um PR em exercício, quando se lança à campanha pela reeleição nunca é um candidato igual aos outros. Tem uma vantagem: notoriedade, que não precisa de conquistar na campanha, acrescendo que muitos o vêem com os olhos de quem prefere o conhecido ao desconhecido. Tem uma desvantagem: o candidato não pode deixar de ser presidente durante a campanha, a manobra eleitoral não pode ser ocasião para alienar as condições de exercício da magistratura. Na verdade, quando esta cautela é satisfeita, ela torna-se numa vantagem, na medida em que os demais candidatos também prestam uma indifarçável vénia ao presidente que habita o candidato.
Cavaco Silva, a demonstrar desde há muito por que é o pior PR desta democracia constitucional, mudou tudo isso: a manobra politiqueira, que fez e promoveu durante o primeiro mandato tão sub-repticiamente, passou agora à luz do dia. Embalado pelas dificuldades do governo, dificuldades que qualquer governo teria nas actuais circunstâncias, o candidato-presidente estrutura a sua campanha numa clara oposição ao governo. Nem se coíbe de criticar em campanha os actos de governo de que foi politicamente co-responsável enquanto presidente. Nesse sentido, Cavaco Silva é agora um aprendiz de Passos Coelho: no salão compromete-se nas políticas e no rumo, na praça arenga contra as mesmas políticas e o mesmo rumo.
Cavaco aplica agora ao país a receita que desde sempre aplicou aos seus correlegionários: a duplicidade. Aprendiz por aprendiz, mais valia seguir Maquiavel do que Passos Coelho. Só que, para o homem que não sabia quantos cantos tem Os Lusíadas, Maquiavel tem a desvantagem de não aparecer na televisão.

Cavaco Silva aumenta as críticas e desafia Governo a explicar medidas de austeridade.