23.9.10

um humilde pedido público da caridade de uma explicação, já que eu, se Pessoa estava certo, sou como Jesus Cristo que não percebia nada de finanças



Custos da dívida portuguesa não param de aumentar. «Apesar de Portugal ter conseguido encontrar um nível confortável de procura nos mercados internacionais para as suas emissões de dívida, essas concessões de crédito estão a ser feitas a taxas bastante mais elevadas do que as que se registavam antes do início da crise.»

Bancos portugueses ajudam Estado. «Num cenário de dificuldades na obtenção de financiamento nos mercados, o Estado português tem contado com a ajuda dos bancos nacionais para resolver alguns dos seus problemas.»

Os juros dos empréstimos concedidos ao Estado têm aumentado. Mas qual é a dúvida? Espera-se que quem empresta dinheiro queira ganhar o máximo com isso. Os "mercados internacionais" - quer dizer, a meia dúzia de bancos e agências que fazem a "imagem" dos agentes económicos - manipulam o clima político para obterem mais dinheiro pelos mesmos empréstimos. Eu, o(a) caro(a) leitor(a) também gostaria de poder ter melhores taxas de juros na remuneração de algum dinheiro que pudesse investir. Se eu pudesse ameaçar o meu banco de inúmeras malfeitorias, às quais ele só poderia escapar se me aumentasse a taxa de juro em dois ou três pontos, eu teria assim uma maneira de ganhar mais uns trocos. Eu, tu, ele - não podemos fazer isso. Mas "eles" podem. A tal meia dúzia de "actores globais" do mercado da intoxicação mediática, política e financeira a nível global. Para quê? Para ganharem dinheiro. À custa de quem? Dos países que, à vez, são colocados na berlinda. Com a cumplicidade de quem? De quem defende as soluções políticas, a nível nacional e europeu, que facilitam esse jogo.
Entretanto, os bancos nacionais, bonzinhos, emprestam ao Estado. Vamos lá a ver se eu percebo. Graças à crise, o Banco Central Europeu empresta dinheiro aos bancos, em condições que eles não encontrariam no mercado. Os bancos, simpaticamente, emprestam ao Estado. Com juros superiores, claro, por ser esse o seu negócio. E nós achamos bem. Mas, então, por que não há-de o BCE emprestar directamente ao Estado, sem o intermediário dos bancos privados?
É um excelente argumento, a crise. Tenham caridade: eu, como o Jesus Cristo que Fernando Pessoa entendia, também não percebo nada de finanças. Expliquem-me lá, devagarinho, onde me enganei eu.