António Barreto: direito à saúde, educação e habitação é incompatível com a crise.
Prossegue o Público: «"Vamos à Constituição e vemos que o cidadão português tem todos os direitos e mais alguns. Tem direito à saúde e educação de graça, à habitação", disse António Barreto, considerando que estes direitos "não são compatíveis" com o actual estado das finanças públicas. O sociólogo acrescentou que gosta de "distinguir entre os direitos que devem ser absolutamente invioláveis – direito à privacidade, à integridade humana individual, direito à boa reputação, de voto, de expressão, de circulação – e os outros, que são interessantes, importantes, mas não são do mesmo nível de inviolabilidade como são os outros".»
O ex-ministro, ex-aspirante a líder do PS, actual crítico mordaz de tudo o que venha à rede, combina alguma lucidez que de vez em quando exibe - com a falsa lucidez dos que vêem muito olhando só para um lado. A moda agora é cortar nos direitos sociais. Barreto também acha. É mais difícil pensar em cortar nos direitos sociais quando se vive com o salário mínimo, quando se está doente, desempregado ou quando se pode ser despedido por dá cá aquela palha. Um professor universitário protegido das mais mesquinhas vilezas da contingência - está, certamente, muito mais à vontade para falar em "suspender" os direitos sociais.
Não tenho consideração nenhuma por esta forma parcelar de ver as coisas. Prefiro outro tipo de linha: em vez de falar em cortar nos direitos, falar em aumentar os deveres. Aumentar as responsabilidades. Temos a responsabilidade de trabalhar mais e melhor, criando riqueza para o país. Temos a responsabilidade de estudar mais e melhor, dando bom uso ao que o país gasta em educação e formação. Temos o dever de organizar melhor, para não estragar o trabalho dos outros. Temos a responsabilidade de cortar no supérfluo, para não contribuir para o endividamento do país e alargar a poupança. Temos a responsabilidade de contribuir para o bom funcionamento das instituições, não nos aproveitando de cargos e funções para fins ilegítimos, não degradando o espaço público, não cumulando os cargos de privilégios que a função não exige. Temos muitas responsabilidades ainda mal assumidas, individual e colectivamente. É por aí que o país tem de mudar. Para garantir os direitos que já existem e reforçá-los no futuro. Isso é pensar pela positiva. Isso é necessária para quebrar o enredo dos que vão sempre ao bolso para puxar pela solução facilitista e miserabilista: cortar nos direitos sociais e económicos dos mais desprotegidos.