Hoje comprei o Diário Económico. Dadas as "novidades" de ontem às 20-horas-20, e dado que há muito perdi qualquer tipo de fidelidade a qualquer tipo de jornal (compro pouco e vario muito), achei que o Económico podia ser útil. Até foi. Mas, claro, tinha que ser brindado com uma pérola.
A peça principal sobre o novo "pacote de austeridade" vem na página 4 e é assinada por Margarida Peixoto e Márcia Galrão. E deve ter sido lida por quem toma as decisões editoriais em última instância lá na casa. Então, logo no segundo parágrafo da peça, o texto dá-nos a ler que o PM teria dito que «as medidas são de "último arraso" e "só são tomadas quando não há outra alternativa"». Portanto, Sócrates teria dito que as medidas anunciadas eram "de último arraso". Ameaçador (ou incontinente), este PM!
Pois, Sócrates não disse nada disso. O PM usou a expressão latina ultima ratio. Em português corrente, algo como "última razão", se tomada demasiado à letra. Mais propriamente, o "último argumento" para sanar uma disputa, enfrentar uma dificuldade. Digamos, "último recurso". Ou "aquele cabo longínquo que não teríamos percorrido se não nos tivessem empurrado para tão longe". Agora, "último arraso" é que não sei o que é. "Arraso" pode ser "destruição", "deixar sem nada", "nivelar", ... , mas não me parece que o PM tinha querido anunciar que se propunha arrasar tudo o que ainda estivesse de pé em toda a extensão do império.