Brothers.
Para quem ainda não percebeu o que são as famílias reais no mundo real - no mundo real há de tudo - vem a propósito este filme. (De qualquer modo, se ainda não percebeu o mundo das famílias é porque nunca se deu ao trabalho de ler Agustina.) Um filme com um pouco de Afeganistão a mais (já se sabe o que aquelas coisas são, não era preciso mostrar em extensão, bastava sugerir ou deixar adivinhar), mas com a dose certa do que a contingência faz às pessoas. Incluindo o que as contingências felizes fazem de complicado às pessoas.
Podemos, se soubermos tirar dali uma lição, chegar a pensar como é tolo querer cortar a direito com os sentimentos das pessoas. Falamos do amor. O pai da jovem família, regressado da morte suposta, acha que está no seu direito, acha que só quer o que é seu, acha que o seu sofrimento e o seu amor o justificam na reivindicação. Nesses pergaminhos assenta a reivindicação violenta, para a qual não interessa muito se tem ou não as suas razões. Aliás, o facto de a reivindicação ser violenta, ao dar-se tacitamente por condenável (excessiva), dispensa o espectador de um juízo mais explícito acerca da própria reivindicação. Aquela violência é patológica, está resolvido o problema; se a violência fosse ao correr do pêlo dos dias calmos, a violência da posse pelo estatuto do adquirido, talvez fosse menos "extraordinário" e se entranhasse mais nas (des)aceitações do espectador.
O filme, acabando com o marido aparentemente a aceitar que o problema está do seu lado, deixa tudo em aberto. O trio dos dois irmãos com Grace não está, no essencial, resolvido. O irmão/cunhado/tio continua lá e o passado (que um amor novo estava a nascer em cima de um amor antigo que nunca tinha morrido) não se apaga. O pai/irmão/marido talvez possa aceitar, depois de curada a ferida da guerra - mas isso não é certo: nada nos garante que não vai, pelos séculos dos séculos, persistir uma luta pela posse. E, na luta pela posse, os factos da vida são pecados que os possuidores querem varrer da face da Terra por todos os meios. Mesmo que isso corte uns raminhos na alma dos possuídos.
Será mesmo verdade que ninguém quer nas suas terras árvores plantadas pelos vizinhos? Coisas de família, menos rendilhadas do que literatura portuense, mas a cumprir a incessante repetição do mesmo quase diferente.