29.9.10

indignidades da política do esconde-esconde


Bruxelas não vai processar a França por discriminar ciganos.

A Comissária Europeia Viviane Reding, uma mulher política de longa carreira na direita do espectro político luxemburguês e europeu, ameaçou a França com um processo por discriminação de cidadãos comunitários. A ameaça aconteceu depois de ter sido revelada a existência de uma circular interna em que os acampamentos de imigrantes ciganos, normalmente da Roménia e da Bulgária, eram dados como alvos “prioritários” das acções de desmantelamento e expulsão do país. A senhora Reding foi parcialmente desautorizada por Barroso, com a desculpa esfarrapada da referência ao procedimento nazi na segunda guerra mundial face aos ciganos (uma verdade, pelos vistos, inconveniente).
Agora, Bruxelas encontrou uma pequena farsa para deixar de incomodar a França e deixar que prossiga na discriminação proibida. Não temos nada contra que se persigam os comportamentos ilegais, usando os meios legais e próprios de países civilizados. Coisa muito diferente é perseguir grupos étnicos com base nesse mesmo critério, algo que pode ter uma justificação estatística, mas nunca uma justificação moral nem política.
Esta indignidade devia cobrir de vergonha a Comissão Europeia, que desde há vários anos arranja sempre maneiras de deixar que os "grandes" façam o que lhes dá na real gana, ao mesmo tempo que está sempre pronta a puxar as orelhas aos "pequenos". Essa indignidade, desta vez, tocando um assunto de direitos fundamentais, é ainda mais vergonhosa. Vergonha que, aliás, deviam sentir também aqueles que no Parlamento português, há alguns dias, se encolheram nas covas fundas das conveniências de momento para deixar por repudiar o racismo oficial do actual governo francês.
Esta é a verdadeira crise, a crise moral - que, acreditem, dá gás a todos os outros aspectos da crise.