31.7.09

dos lavradores da terra aos lavradores das manhas



No passado dia 23 de Julho, Jaime Silva, Ministro da Agricultura, deu uma entrevista ao i. Essa entrevista está ainda em linha (ler na íntegra aqui), mas vale a pena deixar aqui alguns destaques. Para que se veja como certas “verdades” são construídas por certos actores, desde dirigentes sectoriais que parecem mais interessados nos seus ganhos privados do que nos lavradores, até comentadores televisivos pouco rigorosos, passando por assessores presidenciais cuja isenção ao serviço da nação deve ser questionada (para averiguar se não é contaminada pelas suas historiazinhas pessoais, como já antes escrevemos aqui.)


[compreender as sombras dos protagonistas]

«As manifestações começaram em 2005 e sempre pelo mesmo sector da direita, aquele que defendeu as ajudas desligadas da produção. Há uma acta, do último Conselho Nacional de Agricultura liderado pelo engenheiro Sevinate Pinto, onde se discutiu como implementar a reforma de 2003 em Portugal, e onde todas as associações, excepto a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), dizem "não" à introdução das ajudas desligadas da produção. E o Sevinate Pinto introduziu-as na mesma. Eu cheguei e disse que discordava em absoluto dessas ajudas, porque introduzem distorções de concorrência. Um agricultor que fazia cereais e passou a fazer hortofrutícolas tem uma ajuda e concorre com quem faz hortofrutícolas sem ajudas? É irracional.»


[despeito?]

«O assessor do Presidente da República (PR), Sevinate Pinto, é que não deve estar muito satisfeito comigo. Ofereceu-se para fazer determinado trabalho e eu disse que não. Não me passaria pela cabeça aceitar que o Sevinate Pinto fosse intermediário entre a Companhia das Lezírias e os rendeiros. Tenho uma carta dele a pedir para ser.»


[serão legítimos todos os interesses?]

«Não se esqueça que Sevinate foi assessor e consultor da CAP, e tem interesses pois é, ou foi - já não sei - produtor de cereais. Logo tem uma outra lógica, que vem de toda a Política Agrícola Comum (PAC) de 1992. (…) O governo francês decidiu aplicar uma espécie de modulação nas ajudas que não obrigam a produzir, retirando aos cereais e dando à produção de carne extensiva. E isto para a CAP foi balde de água fria. Até a França já percebeu que a PAC, como está, não pode prolongar-se nas próximas perspectivas financeiras. Quando os 27 discutirem as perspectivas para pós-2013 e virem que a PAC continua a ser responsável por 40% dos gastos do orçamento, em vez dos 32%, é evidente que toda a gente vai ter outras políticas importantes para financiar. E onde se vai buscar o dinheiro? Sairá da PAC. E é preciso saber isto, e dar aos agricultores um novo discurso. Senão, em 2013 não estamos preparados.»


[donde vem a raiva?]

« Naquela Assembleia [da República], os portugueses não reparam, mas quando estou ali sou acusado de estar sempre com ar arrogante. Mas é a única forma de resistir às bocas sistemáticas. Estou sentado do lado do CDS e aqueles senhores passam a vida a insultar-nos, a chamar "ladrão, caloteiro". (…) Olhe, imagine um agricultor que ia receber 100 mil euros por ano, como uns bem conhecidos e que já foram políticos, e surjo eu e digo: "Não vai nada receber 100 mil euros por ano porque a medida não faz sentido". Claro que não vai ficar satisfeito. Daí a insultar um ministro, não pode ser.»

[a isenção é um fruto verde]

«Onde está a substância da crítica do Marcelo [Rebelo de Sousa]? O MRB é bate e foge. A Agricultura foi a pior porquê? Nunca chegou tanto dinheiro à agricultura portuguesa, mas foi direccionado de outra forma. Será que MRB gosta das ajudas para não produzir, gosta do dinheiro todo concentrado em 6% dos agricultores?»