António Correia de Campos, hoje no Público:
Gostaria de não ter que me referir ao actual presidente da Comissão, o português Durão Barroso. O que tenho a dizer custa-me. Votei nele em 2009, integrando uma maioria qualificada, ao lado dos colegas de Espanha e da quase totalidade dos Portugueses. Cumpri orientações da delegação, vindas de José Sócrates, contrárias às do grupo europeu dos Socialistas e Democratas. Em circunstâncias normais deveria sentir orgulho por ter um Português na presidência da Comissão. Infelizmente não me ocorre esse sentimento. Uma gestão apagada que deixou a Comissão perder força e influência. Um comportamento errático, mudando constantemente de opinião. Uma retórica feita de compromissos e marcada pela cor do auditório, com vista a gerar aplauso fácil, em qualquer circunstância. A negação imediata do que afirmara, sempre que recolhia hostilidade dos grandes. Um comportamento de Pilatos, quando as coisas corriam mal, atirando culpas para os Estados Membros. Uma completa ausência de grandeza, sujeitando-se ao papel de marionete dos grandes, parecendo aceitar a capitis diminutio como um facto normal para um originário de pequeno-médio País. Em momento algum o orgulho de português subiu em mim e em muitos momentos lamentei que um compatriota se prestasse ao que ele se prestou. À pergunta do meu colega Rangel sobre se seria melhor termos um presidente alemão respondo sim, sem pestanejar, ao menos saberíamos sempre com que se contava. Na contabilidade de vantagens e inconvenientes ficam pequenos ganhos de mercearia: alguns lugares de direcção ou de representação que vieram parar a Portugal, na maioria esmagadora destinados a gente da direita. Um acesso porventura mais fácil aos serviços da Comissão, por parte das autoridades nacionais, usado e abusado já por este governo, a quem Durão teve que ensinar tudo sobre os fundos, sobretudo na primeira fase. E pouco mais.