Na sua coluna do Público, que já citei hoje, António Correia de Campos, lembra que os deputados europeus do PS deram luz verde a Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia. Por suas palavras: «Gostaria de não ter que me referir ao actual presidente da Comissão, o português Durão Barroso. O que tenho a dizer custa-me. Votei nele em 2009, integrando uma maioria qualificada, ao lado dos colegas de Espanha e da quase totalidade dos Portugueses. Cumpri orientações da delegação, vindas de José Sócrates, contrárias às do grupo europeu dos Socialistas e Democratas.»
Foi, na realidade, uma grande ingenuidade. Uma ingenuidade cujo primeiro responsável foi Sócrates, que nunca percebeu que Barroso se faria seu amigo apenas enquanto o cheiro do sangue não mudasse de campo.
Aqui neste espaço, onde costumo comentar o que fazem e dizem os outros, não tenho por hábito debruçar-me sobre as minhas próprias palavras e actos. Mas, agora, quero lembrar umas palavras que proferi, publicamente e de viva voz, há quase dez anos, precisamente a 2 de Outubro de 2004. Trata-se de um excerto da minha intervenção no encerramento do debate das moções globais ao XIV Congresso Nacional do PS, em Guimarães, na qualidade de primeiro subscritor da moção "Uma Esquerda com Raízes e com Futuro". Dizia eu:
«Parece que estamos a ter dificuldade em perceber que acabou o velho consenso europeu entre PS e PSD. A deriva neoliberal passa hoje, em grande parte, pelas opções que se fazem nas instituições europeias - e isso só vai piorar com Durão Barroso na presidência da Comissão. É preciso que o projecto europeu do PS não se confunda com o projecto europeu do PSD. Até porque por aí passa também uma batalha essencial com outras formações que se sentam do lado esquerdo no Parlamento.»
Como está bem de ver, ninguém me ligou nenhuma.