10.4.14

LIVREDADES.


O partido LIVRE está aí. Não sou entusiasta, não critico, não tenho grandes expectativas, acho que seria bom que conseguissem dar alguma coisa de novo à nossa democracia. Que bem precisada está.

Acho que Rui Tavares vai ficar muito longe de ser eleito, tal como acho que o BE vai ter um mau resultado, porque as pessoas se cansaram de coisas que lhes parecem demasiado vaporosas. Os tempos difíceis são mais favoráveis a valores seguros como o PCP: gostamos ou não gostamos, mas sabemos o que é. Se queremos dar uma hipótese ao anti-sistema, sair da Europa com mais ou menos estrondo, culpar uma meia dúzia de culpados por todos os nossos males, regressar ao nosso jardim à beira do mar plantado, se queremos depositar a nossa raiva em alguém que lhe dá voz, o PCP serve para isso. As inúmeras esquerdas alternativas serviam para explorar novos caminhos e baixar a tensão entre esquerdas, e tiveram sucesso enquanto pareciam ser isso, mas estamparam-se quando podiam ter saltado para dentro do barco do poder, para tentar fazer qualquer coisa de diferente, e se encolherem de forma muito oportunista.

O Livre também vai pagar por essa desadequação à conjuntura. Se o PS parecesse um pouco mais excitante, Rui Tavares nem para candidato a presidente da junta tinha hipóteses. Anda pelo Livre muita gente que só está no defeso de batalhas mais completas.

De qualquer modo, isto, a prazo, nem sequer é muito importante. A verdadeira prova do Livre virá depois das próximas eleições. Virá com os anos. Sim, com os anos, não com os meses. Louçã, um fenómeno muito particular na política portuguesa, andou muitos anos a tentar. E nunca teria chegado tão próximo de fazer alguma coisa de concreto para governar este país, como chegou, se não tivesse aguentado tantos anos na obscuridade extra-parlamentar. É dessa persistência e consistência que Rui Tavares precisa, não de arroubos rápidos a partir de uma cadeira europeia que lhe saiu na rifa. Sobre essa fibra de Rui Tavares, se ele a tem ou não, não faço previsões. Somos todos imprevisíveis.