21.10.11

viver no meio de escombros.


O PSD e o CDS chegaram ao governo de Portugal montados numa estratégia de crispação dura e permanente. A coligação negativa, que juntou em momentos decisivos a auto-proclamada esquerda da esquerda aos actuais governantes, foi a parte institucional desse cenário de confronto. A componente extra-institucional da coligação negativa foi a política do ódio, gerida na comunicação social e nas redes da boataria, servida do cardápio de ataques pessoais de todas as cores e feitios (desde o apartamento da mãe até ao freeport), em que cada escândalo novo vinha substituir mais um escândalo velho cuja vacuidade se tinha tornado incontornável.
Nesse clima de guerra civil em banho-maria, criado para obter efeitos eleitorais, o país não podia respirar. A derrota de Sócrates e a ascensão do mansinho PPC, se trazia no bojo todas as ameaças que a actual governação está a concretizar, tinha pelo menos a virtualidade de aliviar a tensão. Isso seria necessário para restaurar um saudável diálogo numa comunidade política democrática. PPC até começou bem nesse ponto, com alguma contenção. O que implicaria não abusar demasiado da velha conversa de que o governo anterior era o único ou o grande culpado de tudo o que de mau há no mundo.
Entretanto, de cabeça perdida com a constatação de que passara a campanha eleitoral a dizer disparates, a ter de abandonar medidas que tinha dado como estudadas apesar de nunca ter pensado nelas seriamente, a verificar que a sua receita para o país é pouco mais do que um certificado de óbito, PPC regressou à única cartilha que alguma vez consultou com afinco. PPC não soube mais do que voltar à crispação. A culpa é dos outros. O orçamento é meu, o défice é dos socialistas. O sucessor de PPC na JSD quer imitar os métodos estalinistas da Ucrânia e fazer julgar os governantes anteriores. A treta do desvio colossal é a matriz dessa estratégia de mentira e ocultação. Tudo para tentar salvar a pele lançando o país na confusão, reacendendo as chamas da crispação violenta. Essa estratégia de renovar a crispação é suicidária para o país, é tudo o contrário do que faz falta.
Esta gente, de facto, só sabe viver no meio de escombros. Estão, portanto, a construir a casa à medida desse gosto. É pena.