15.7.11

Ministro de Estado, das Finanças e da Interpretação


Vítor Gaspar dá nova interpretação a palavras de Passos Coelho ("desvio colossal") e fala em “trabalho colossal”.

No tempo de Manuela Ferreira Leite havia vários dirigentes do PSD encarregues de dar interpretações do que ela dizia. Cada vez que a senhora presidente dizia mais um disparate, Pacheco Pereira, ou outro intelectual de serviço, dava uma "interpretação". A interpretação era o que a senhora poderia ter dito, mesmo que fosse irrelevante, em vez de, como fazia frequentemente, proferir insanidades. Mas, nesse tempo, a presidente do PSD era apenas uma senhora que gostava muito de Cavaco, odiava muito Sócrates - e estava disposta a dizer qualquer coisa que servisse essas duas paixões. Em conformidade, os interpretadores das palavras da senhora eram, simplesmente, outros bondosos dirigentes do PSD.
Agora, Passos Coelho, que se seguiu a MFL, também tem interpretadores. Só que, alcandorado à dignidade de PM, não pode ser qualquer um a dedicar-se a tão insigne hermenêutica. Por isso, o Ministro de Estado e das Finanças passou a acumular a pasta da Interpretação. Vítor Gaspar tem uma nova pasta, sendo agora Ministro de Estado, das Finanças e da Interpretação de Sua Excelência.

Note-se, contudo - e aqui socorro-me do vídeo divulgado pela Shyznogud - que Vítor Gaspar, depois de apresentar a teoria de que Passos Coelho não teria falado de "desvio colossal", e que essa expressão seria o resultado infeliz de terem rasurado uma série de palavras entre "desvio" e "colossal", explica, passo a citar: «“Esta versão é da minha pura responsabilidade. Eu não tenho nenhuma informação autêntica sobre as palavras que terão sido proferidas entre “desvio” e “colossal”. Mas esta versão agrada-me particularmente.”» Trocando por miúdos, o que o Ministro de Estado, das Finanças e da Interpretação de Sua Excelência, disse, foi o seguinte: «o PM disse um disparate; era bacano que tivesse dito, por exemplo, aquilo que eu acabei de dizer que ele disse, em vez de andar a dizer tolices».
Já nem o Ministro de Estado e das Finanças se contém.