6.7.11

a crise não caiu do céu, pois não?


Pedro Santos Guerreiro, no Negócios online:
As causas da descida do "rating" de Portugal não fazem sentido. Factualmente. Houve um erro de cálculo gigantesco de Sócrates e Passos Coelho quando atiraram o Governo ao chão sem cuidar de uma solução à irlandesa. Aqui escrevi nesse dia que esta era "a crise política mais estúpida de sempre". Foi. Levámos uma caterva de cortes de "rating" que nos puseram à beira do lixo. Mas depois tudo mudou. Mudou o Governo, veio uma maioria estável, um empréstimo de 78 mil milhões, um plano da troika, um Governo comprometido, um primeiro-ministro obcecado em cumprir. Custe o que custar. Doa o que doer. Nem uma semana nos deram: somos lixo.
You bastards, diz ele. Mas vale a pena perguntar quem merece a interjeição. Pedro Santos Guerreiro atribui a crise a Sócrates e a Passos Coelho, porque não consegue ser suficientemente trampolineiro para negar que a crise política é que precipitou tudo isto. Mas, bem entendido, é gato escondido com rabo de fora: apesar de Passos ter mentido inicialmente sobre o caso (escondendo um longo encontro pessoal com Sócrates), Passos boicotou a estratégia de Sócrates para termos o apoio da Europa, e votou contra o PEC IV, por ser essa a sua conveniência político-pessoal. E isso trouxe um extraordinário agravamento da nossa exposição aos "mercados". E os mercados não engolem as patranhas que os comentadores-e-jornalistas-que-passam-para-o-lado-de-lá-com-extrema-facilidade caseiramente fazem de conta que valem alguma coisa.
Está na hora de a coligação negativa assumir o poder: o PSD e o CDS devem chamar os seus antigos aliados do PCP e do BE para o governo. Afinal, se montaram juntos este circo, é natural que assumam juntos o espectáculo. Os "mercados" apreciarão, certamente.