11.7.11

eu agencio, tu agencias, ele agencia


A comissária europeia para a Justiça, Viviane Reding, propôs hoje o desmantelamento das três principais agências de rating norte-americanas, a Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch, em declarações ao jornal alemão Die Welt
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Não percebo por qual razão os comissários europeus dizem coisas na imprensa que não se nota nada dizerem nas reuniões do colégio de comissários, onde as decisões para tomar iniciativas deviam ser tomadas. Ou será que eles até dizem, mas o inefável Barroso faz-se mouco? É que começa a ser pornográfico tão evidente "muita parra e pouca uva" nesta conversa.

Ao mesmo tempo, acho bizarro que se queira dar a ideia de todos os problemas serem culpa dos três gigantes americanos da notação. As agências de rating fazem aquilo que lhes pagam para fazer: qualificar a saúde financeira de instituições as mais variadas. É claro que, se eu quero fazer certos negócios com uma entidade que está do outro lado do mundo, tenho a opção de ir lá ver e estudar a respectiva saúde; mas isso é caro e difícil, pelo que, usualmente, se opta por exigir que uma agência destas dê a sua opinião. Num mundo onde se fazem tantos negócios a grande distância, estarão todos dispostos a renunciar a este serviço? Duvido.
Também acho uma certa graça à enorme esperança depositada numa agência europeia. Que resultados terá a sua acção? Em certos casos, nenhum: se a agência europeia disser, acerca de uma empresa ou país, coisas muito diferentes do que dizem as três grandes americanas, "o mercado" vai suspeitar e vai jogar pelo seguro. É como ter sistemas de alarme em casa: mesmo que os alarmes sejam ineficazes quando desafiados, os ladrões, podendo escolher entre uma casa com e outra sem alarme, jogam pelo seguro e atacam a casa sem alarme. Quando a agência europeia der boa nota a países ou empresas a que as três americanas dão má nota, a maior parte dos agentes preferirá jogar pelo seguro e acreditar que são melhores os que reúnem boa nota de todos. Por essa razão, só os que estejam predispostos a acreditar preferencialmente nos europeus é que darão crédito a essa agência. Só que, nesse caso, não se percebe porque não pode o BCE tomar essa responsabilidade a seu cargo. É que é um tanto bizarro - voltando à comissária europeia acima citada - falar de criar agências independentes na Europa e na Ásia. As agências consideradas americanas (uma das grandes até tem maioritariamente capital de um cidadão francês, parece) só não são independentes por terem sede nos EUA? Se mudassem a sede para a Europa passavam a ser independentes? Estranho. Como se "cria uma agência independente"? Independente de quê e de quem?

Tão mau como a Europa não fazer nada para se defender do ataque político que tem vindo a sofrer - é a Europa deixar-se envolver em falsos debates de ilusórias soluções. Nada compensa a falta de governo económico da Europa e a falta de coesão da zona euro - se continuarmos a não levar a sério que estamos todos no mesmo barco; se não se compreender que não vale de nada tentarem castigar os aflitos, porque esse castigo irá recair, cedo ou tarde, sobre todos.