O que Passos Coelho anunciou ontem NÃO é um aumento de impostos.
A picada extraordinária equivalente a uma fatia do subsídio de Natal NÃO é um aumento de impostos.
A promessa eleitoral de não aumentar os impostos NÃO foi quebrada.
A prioridade à punção do lado do consumo, em vez do lado do rendimento, NÃO foi esquecida.
Dizer que "isto" é por culpa da "herança" NÃO é justificar-se com o passado, logo, por aí não se quebra uma promessa eleitoral: até porque essa promessa foi feita já depois das eleições.
Dar a ideia que as contas entretanto conhecidas eram esqueletos no armário NÃO é pretender que o FMI, o BCE e a Comissão Europeia não sabem analisar as contas de um país, nem é pretender ignorar que eles estiveram cá há meia dúzia de semanas a vasculhar tudo.
Tudo isto, bem vistas as coisas, é uma engenharia de almas. A sociedade é uma grande máquina; as almas dos cidadãos são as suas peças; se as almas se enfurecerem, os corpos produzem baforadas de gás tintadas de raiva; se a máquina for a vapor, os sopros de raiva fazem andar a máquina. É uma cibernética um bocado básica, mas é o que temos.