João Marques de Almeida escreve hoje no Diário Económico um artiguinho intitulado "Chavez contra Obama". Apresenta-se nessa circunstância como Professor Universitário, mas é pertinente neste caso saber que se trata de um membro do gabinete de José Manuel Durão Barroso, o actual presidente da Comissão Europeia.
No texto, de pura luta política, é feita uma identificação clara (uma salgalhada, mais exactamente) entre "obamaníacos", "anti-Bushistas" e "Chavistas". Um grande saco de gatos, portanto. Eu, tendo sido "anti-bushista", mas não sendo nem "obamaníaco" nem "chavista", reconheço nesta forma de falar a linguagem da cimeira dos Açores. A linguagem maniqueísta do "bem" contra o "mal", com a qual os pretensos lidadores do bem se arrogam o direito de todas as ilegalidades contra o mal. O que, vindo de quem vem, não me espanta. Andam por esses lados os que estão sempre prontos a esquecer a parte da história que não interessa aos seus objectivos políticos (mesmo que escrevam como "professores universitários", talvez para se darem ares de credibilidade). (Caberia perguntar a JMA onde se pode ler a sua condenação do golpe de estado que tentou derrubar Chavez pela força, já há uns anos - para averiguarmos de quão estremoso é o seu escrúpulo democrático.)
Contudo, para lá dessa deformação ideológica, que para um membro do gabinete de Durão Barroso deve ser propriamente uma exigida deformação profissional, o artiguinho contém uma clara desonestidade intelectual. Falar do problema das bases militares americanas na Colômbia como se elas só causassem comichão a Chavez e seus aliados - é uma pura mentira. É sabido que outros países da região, democráticos e insuspeitos de chavismo, também querem ter mais esclarecimentos acerca do significado dessa jogada. E João Marques de Almeida, sendo quem é e tendo sido quem foi, não é pessoa para ignorar isso. Portanto, se atira para debaixo do tapete elementos que conhece, e que perturbariam o simplismo do seu raciocínio, está a praticar uma desonestidade intelectual.
É por estas e por outras, por continuarem a ser estes os povoadores do território europeu de Barroso, que alguns (muitos?) acham que a esquerda europeia não devia apoiar o Zé Manel para novo mandato de presidente do executivo comunitário.