31.8.09

alicerces

em defesa da escola pública

11:14


João Rodrigues escreve hoje, na sua habitual crónica no quotidiano i, que o recente alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano (uma medida de esquerda, reconhece), pode ser posto em causa pelo desvirtuamento da escola pública. Nesse desvirtuamento envolve o actual governo socialista. Trata-se de uma nova moda: como se tornou impossível esconder as políticas de esquerda do actual governo, ataca-se de cernelha. Assim: as medidas tal e tal até são de esquerda, mas, na falta de outras medidas x e y, estas afinal não são bem de esquerda.

Ora, mesmo à primeira vista, o artigo de João Rodrigues (que muitas vezes escreve coisas muito pertinentes) tem vários vícios lamentáveis.

Primeiro, parece ignorar o enorme investimento político (e material) feito por este governo na escola pública. Em muitas áreas, uma aposta sem precedentes: aulas de substituição como princípio de um reforço da oferta; concretização do princípio da escola a tempo inteiro; reestruturação da rede do básico; modernização do parque escola; generalização do ensino do inglês, da música e da actividade desportiva no 1º ciclo; reforço do ensino artístico; alargamento do acesso à acção social escolar; forte desenvolvimento do ensino profissional. Exemplos, apenas. Exemplos do fortíssimo investimento deste governo na escola pública. Tudo isso é passado em branco.

Segundo, o artigo de João Rodrigues cede à tentação do imediatismo eleitoral fácil. Quando diz que o modelo de avaliação dos professores faz parte de um ataque à escola pública. Podem ter-se variadas opiniões sobre o modelo que em concreto foi proposto, o qual, certamente, não é perfeito (como nada na vida é perfeito). Mas esquecer que a avaliação do desempenho docente, e que essa avaliação deve ter consequências, é um elemento central de uma política de promoção e defesa da escola pública – é um esquecimento demasiado grave. O “deixar andar” é que seria conveniente para os que esperam que a escola pública arraste os pés – para deixar espaço crescente aos privados. Repito: qualquer que seja a opinião sobre esta avaliação, não é sério meter essa iniciativa na gaveta do ataque à escola pública.

Terceiro, João Rodrigues, para promover a escola pública, propõe acabar com o financiamento (directo e indirecto) ao ensino privado. Aqui temos uma amostra excelente da insensibilidade social das opiniões pretensamente radicais. Saberá o autor do artigo o que isso significaria, por exemplo em termos da oferta de ensino profissional? Ou em termos de oferta educativa para sectores com necessidades específicas, por exemplo deficiências? E, já agora, abrangeria também o ensino cooperativo nessa “expulsão”? E tem a noção do que isso significaria para milhares de famílias? Ou isso não interessa nada à sua “cruzada”?

Este texto de João Rodrigues é um bom exemplo de quão inquinados andam os debates à esquerda. Talvez o PS se tenha distraído mais do que o aconselhável de certas preocupações a que dão voz outras forças de esquerda. E até uma interessante esquerda académica que por aí anda. Mas a ligeireza com que certos pensadores, que se pretendem da esquerda da esquerda, atiram para cima da mesa com distorções da realidade e com versões mal embrulhadas de velhas tentações de engenharia social – mostra que essa “esquerda da esquerda” tem ainda de fazer um esforço de concentração no real. Porque o real nunca é tão simples como as tentações ideológicas querem fazer crer. Por muito necessárias que sejam as ideologias. Que são.

[Produto SIMplex]

para perceber o que disse Sócrates ontem



Coisas que Manuela Ferreira Leite disse e agora alguns pretendem que não disse.


1. MFL: Casamento é para procriação





2. MFL: O desemprego que as obras públicas combatem é o desemprego da Ucrânia e de Cabo Verde





3. MFL: Suspender a democracia por seis meses




Ler o atento Carlos Santos, neste "as provas".


30.8.09

Nossa Senhora da Praia


A procissão da Nossa Senhora da Praia entra no mar na Praia das Maçãs. Hoje. Reportagem fotográfica um pouco mais completa um destes dias.

29.8.09

joão cutileiro na flor da rosa


Esculturas de João Cutileiro no Mosteiro de Santa Maria da Flor da Rosa (Flora da Rosa, Crato). Exposição de 4 de Julho a 5 de Outubro de 2009. Fotografias de Agosto.

irresponsável



Cavaco Silva não comenta polémica sobre possível vigilância a assessores da presidência.


A irresponsabilidade deste homem neste caso ultrapassa todos os limites. Brincar com a segurança dos principais órgãos do Estado, ou deixar a suspeita de que se cometem crimes graves no topo desse mesmo Estado, é algo que não o preocupa. Passa todos os limites. Aquele ar de anjinho é falso. É o tique do Pulo do Lobo, aquele episódio onde Cavaco explicou à TV como funciona a sua hipocrisia pessoal.


28.8.09

Autoridade de regulação financeira britânica defende taxa Tobin



Facto inédito neste blogue: copio integralmente do Público.

O líder da principal entidade de regulação financeira do Reino Unido - a Financial Services Authority - defendeu hoje a imposição de uma taxa sobre as transacções financeiras internacionais como forma de controlar o excesso de peso do sector na economia mundial.

A proposta é feita numa entrevista à revista Prospect, citada hoje pelo "Financial Times", e consitui um apoio surpreendente a uma medida lançada nos meios académicos e que, ao nível dos Governos, apenas tem estado na agenda da França, um país com um peso reduzido do sector financeiro.

Agora, Adair Turner, o homem encarregado de vigiar o funcionamento da city londrina, diz que uma taxa Tobin - que tributaria todas as transacções de carácter financeiro a nível global - pode ser a única solução para limitar os excessos a que se assistiu antes da crise. "Se se quer travar o excesso de remunerações num sector financeiro inchado, tem de se reduzir a dimensão desse sector ou aplicar impostos especiais sobre os lucros antes da remuneração", afirma na entrevista. Este responsável considera ainda que, neste âmbito, as discussões sobre a limitação de bónus aos gestores não passam de uma "diversão popular", mostrando-se preocupado com a possibilidade de, depois da crise, voltar tudo a funcionar como dantes.

No Reino Unido, um país cuja economia está fortemente dependente do sucesso dos seus mercados financeiros, as propostas de maior intervenção no sector financeiro internacional têm, ao longo dos anos, sido recebidas com muito pouco entusiasmo. No entanto, para defender a sua opinião, Adair Turner relativiza a importância de manter a competitividade dos mercados, uma vez que, diz, a city de Londres tem-se tornado um factor de destabilização da economia britânica.


aqui

nem profecias nem milagres


Clima económico melhora pelo quarto mês seguido em Portugal. «Os consumidores portugueses estão menos pessimistas e as empresas começam a prever melhores resultados. Em Agosto, o clima económico calculado pelo Instituto Nacional de Estatística acentuou a tendência de melhoria que se regista desde os mínimos históricos atingidos em Abril. E os indicadores de confiança dos consumidor já estão a regressar a níveis próximos do que se verificava antes da crise.»
Se calhar valeu a pena não termos baixado os braços.

do programa eleitoral do PSD, again

10:31

Um aspecto curioso que ressalta de uma leitura global do programa eleitoral do PSD é a sua falta de memória. Em dois sentidos. Primeiro, não parece ciente das responsabilidades passadas de quem o propõe. (Em particular, faz de conta que MFL nunca foi ministra das finanças e da educação neste país.) Segundo, não tem a noção da continuidade governativa. Nenhum governo razoável começa tudo de novo: apoia e continua parte do legado, modifica algumas (ou muitas) coisas, introduz novidades. Parte importante da credibilidade de um "partido de governo" deve residir em não falar como se cada nova legislatura fosse uma nova revolução. O PSD, neste programa, comete o erro de fundo de fugir a distinguir onde "rasga" e onde "não rasga". Esse, aliás, não é um problema novo para este PSD.


do programa eleitoral do PSD


«E há, também, que criar o hábito de divulgar informações abrangentes sobre o OE e as contas públicas, de forma muito simples e regular, na comunicação social, acessíveis à
generalidade das pessoas, para que o público se sinta mais próximo do tema e exerça uma fiscalização maior.» (p.9)

Este deve ser o contributo de Santana Lopes para o programa: estimular a boa gestão das finanças do Estado com publicidade na comunicação social. (Só poder ser publicidade; se for jornalismo ou opinião, o PSD não assumirá que é por encomenda do governo. A menos que se faça a coisa com o sr. Fernandes, claro.)


ora vejamos


Sociais-democratas apresentaram programa eleitoral.

Lê-se no programa eleitoral do PSD: «Quanto às finanças do Estado, importa assegurar que os próximos anos serão de consolidação orçamental efectiva, e não apenas aparente.» (p.9)

Correio da Manhã, 15 de Julho de 2009: «Citigroup ganhou 290 milhões. O Citigroup vai ganhar com a cedência de créditos fiscais e da segurança social, efectuada quando Manuela Ferreira Leite era ministra das Finanças do Governo PSD/CDS, quase 290 milhões de euros. O valor, referente a juros e encargos com a montagem da operação, representa 16,4 por cento do preço inicial pago pelo Citigroup, de 1,76 mil milhões de euros, que permitiu cumprir o défice público de três por cento exigido no Pacto de Estabilidade e Crescimento.» (mais aqui)


26.8.09

escolaridade



Pais divididos quanto ao alargamento da escolaridade obrigatória.


A proposta de lei do Governo de alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos, agora promulgada por Cavaco Silva, foi aprovada a 10 de Julho com os votos favoráveis do PS, PCP, BE e PEV e a abstenção do PSD e do CDS-PP.

Comentário 1. Então e o argumento do PR, aplicado às uniões de facto, segundo o qual há demasiada produção em final de legislatura? Será "desculpa de mau pagador"?

Comentário 2. O PSD e o CDS/PP, em matérias de avanço civilizacional, sempre na vanguarda... da retaguarda.


25.8.09

aldeias



Uma mini-procissão em Almoçageme, hoje à noite.





andar por lisboa



Uma das vantagens de ter amigos estrangeiros chez nous é "obrigar-nos" a andar por Lisboa em recantos que normalmente deixamos de lado.




confessionário antecipado

nacionalizações

21:02



João Rodrigues, primeiro no jornal i e depois no Ladrões de Bicicletas, escreve sobre "As nacionalizações necessárias". Diz, nomeadamente, que «A recuperação do controlo público da Galp e da EDP, por sua vez, é a única forma de manter em mãos nacionais o sector vital da energia e o meio mais eficaz de delinear uma política racional que reduza a dependência energética face ao exterior, acelere o aumento do peso das energias renováveis e garanta que a sua gestão é guiada por critérios mais amplos que a estreita criação de valor para o accionista.»
Não tenho nada contra, em princípio, contra nacionalizações. Não concordo com o pensamento único que excomungou essa possibilidade. Mas faz-me um bocadinho de confusão que os seus defensores não tenham em conta os problemas que também têm esse tipo de soluções. Parece que o controlo do Estado se revelou, no passado, uma solução miraculosa. Mas não foi assim, pois não?


notícias da coligação negativa



«Jerónimo de Sousa defende alteração dos critérios que discriminam a Madeira na Lei das Finanças Regionais. Secretário-geral do PCP acusa o Governo da República de ter "inventado" critérios para prejudicar a Região. Numa iniciativa de pré-campanha da CDU no Funchal Jerónimo de Sousa juntou-se às críticas do PSD e acusou o Governo da República de ter "inventado" critérios para prejudicar a Madeira. Jerónimo de Sousa também defende o aprofundamento da Autonomia na Madeira.» (aqui)

de facto, as uniões



É provável que algumas pessoas pensem que Cavaco, ao vetar a revisão do estatuto das uniões de facto, vetou um monstro, um abuso, uma insanidade. Este texto do Rogério da Costa Pereira é muito útil para perceber o que realmente Cavaco vetou. É que dar satisfações ideológicas a certos sectores conservadores não é, só por si, servir a coisa pública.

24.8.09

explicações à borla



Este jornalista explica como funciona o sr. Fernandes e o palácio de Cavaco.


presidente-rei?



Presidente da República vetou nova lei das uniões de facto. O Presidente da República vetou a nova lei das uniões de facto, considerando "inoportuno" que em final de legislatura se façam alterações de fundo à actual lei.


As legislaturas terminam de acordo com os imperativos constitucionais - ou quando Cavaco acha que elas já estão longas demais? Para isso, tivesse tido a coragem de usar o poder de dissolução. Seria mais frontal. E, para quem se queixa de ter muito trabalho nas férias, até dava jeito.


o discurso suave da direita dos interesses é global


Ou, pelo menos, encontra uma versão para qualquer país.
Veja-se, aqui, um bom painel de exemplos de como a direita e o dinheiro estão a atacar Obama por causa do projecto de dar aos americanos uma melhor protecção na saúde.
Por cá, os mesmos interesses são mais cobardes: mordem mais pela calada.


21.8.09

Ousar governar

11:21

No tempo da União Soviética, uma anedota resumia o impasse social visto pelos trabalhadores: “Eles fingem que nos pagam, nós fingimos que trabalhamos”. Cá, a receita nacional para um equilíbrio perdedor é a narrativa dos "direitos adquiridos" em visão estática. Como se o melhor das nossas vidas tivesse de ser o passado.
Para enfrentar esse derrotismo temos duas vias. A primeira é neo-teológica, substituindo a providência divina pela mão invisível, pelo proletariado ou pela metafísica do agente racional. A segunda reconhece a contingência: o progresso não está escrito nas estrelas; são os humanos, em sociedades concretas, que fazem a sua história. Só esta via, não determinista, reconhece autonomia e responsabiliza os agentes.
No mundo do trabalho, essencial à realização da maioria dos portugueses, isto pede o reforço do diálogo social. Dois cinismos ameaçam esta opção. Um aponta para casos de evidente manipulação de lutas laborais para depreciar a representação dos trabalhadores. Outro pretende que a existência de empregadores autoritários e fracassos negociais são obstáculo universal à negociação.
O problema é que o cinismo custa caro. A abordagem da direita teve a sua ilustração no descalabro da contratação colectiva em 2004, com uma quebra (face a 2003) de 53% no número de convenções e de 60% nos trabalhadores abrangidos: os valores mais baixos em vinte anos. Sem quaisquer ganhos para a competitividade. Já o governo PS visou renovar as relações de trabalho e abrir-lhes novas perspectivas: impedir a caducidade acelerada dos contratos colectivos; melhorar os mecanismos de arbitragem; submeter os aspectos críticos da adaptabilidade à negociação colectiva e não individual. Os resultados positivos começam a sentir-se: apesar da crise, os primeiros meses de 2009 estão entre os melhores períodos homólogos deste século, (convenções publicadas e trabalhadores abrangidos), podendo ser activados processos antes bloqueados.
É saudável que o programa de governo do PS, propondo um pacto para o emprego, aposte no aprofundamento desta via. Porque há que partilhar o esforço e os resultados dos sucessos para potenciar equilíbrios dinâmicos progressivos.
Os lobos podem atacar os cordeiros e isso constituir um facto social básico para ambas as espécies. Mas nem os lobos nem os cordeiros podem reconfigurar a sua vida social. Nós podemos, se soubermos. Se soubermos que "ousar governar" não é um desafio para alguns, mas uma responsabilidade para todos a muitos níveis. E quem não souber reconhecer as diferenças acabará por favorecer os profetas das oportunidades perdidas.

[Publicado hoje no Diário Económico (p. 2), na coluna dos autores do SIMplex.]

sentido de Estado


Manuela Ferreira Leite, ontem à RTP1: "Eu não quero saber se há escutas ou não, eu não quero saber se há retaliações ou não, o que é grave é que as pessoas acham que há."

MFL diz tudo e o seu contrário, já se sabia. Mas esta talvez seja nova: esta direita torta já nem sentido de Estado tem. Não lhe interessa se o PR é escutado ou não? Qualquer dia já nem lhe interessa saber se sim ou não fazem waterboarding no Palácio de Belém a assessores desbocados.

é melhor pescar sem cana?



Há um computador por cada 5,6 alunos nas escolas
.

E há os que dizem: ter um computador não chega para aprender. Pois não: ter um avião também não chega para voar. Mas ajuda.
É que a história do peixe e da cana de pescar... precisa da cana, não é?

Claro: os que desvalorizam o interesse da democratização dos computadores normalmente escrevem contra isso em computadores. Que tiveram meios para comprar. Será que querem evitar concorrência futura?

Domitílias há muitas (mesmo com outros nomes)


Hoje, na primeira página do Diário Económico:
«Domitília dos Santos, gestora de fortunas em Nova Iorque, nasceu pobre, no Algarve. Trabalhou, estudou e quando quis voltar a Portugal, a Bolsa recusou-a por "falta de habilitações".»
O jornal traça-lhe assim o perfil: «Hoje trabalha com milhões e dedica-se ao voluntariado. É gestora de fortunas, está entre as 100 mulheres mais poderoas da alta finança.»

Em discurso directo:
«Diário Económico - A Bolsa de Lisboa é uma brincadeira de crianças?»
«Domitília dos Santos - Só sei que fui recusada por falta de habilitações. Apesar de toda a experiência que tenho, não posso trabalhar lá porque me falta um curso de cálculo.»

Já perceberam qual é o espírito da criticazinha "doutoral" ao programa Novas Oportunidades?

20.8.09

política de verdade

que tipo de mentiroso é Pacheco Pereira?


Pacheco Pereira escreve isto na Sábado em linha (aqui):

«Soube-se esta semana que havia gente paga pelo PS em blogues “espontâneos“, [aqui tem um link para o SIMplex] e que foram ingénuos ao ponto de admitirem que o faziam profissionalmente, “até porque não iam votar PS…”. A questão é que o autor da frase aparece como “autor” na lista dos membros do blogue, donde que legitimamente se pensava que isso se devia à sua militância. Eu não sei se o outro blogue do lado de lá do espelho também teve a colaboração de um “art-director” profissional, o que sei é que não está certamente disfarçado de seu autor. E sei-o porque entre os que o assinam nenhum dos nomes é pseudónimo.»

JPP é mentiroso sabendo que o é, por pura má formação ou por estilo político, ou mente apenas por ignorância e falta de tempo para se informar?

Outra pergunta ainda seria: Pacheco Pereira aprendeu a técnica da lama no seu actual partido ou nos tempos de "ML"?

o reizinho e as férias grandes demais para a sua imaginação



Bandeiras monárquicas em Cascais servem para mostrar alternativas políticas, explicam autores.

«Dois elementos do grupo que colocou bandeiras monárquicas na zona da Cidadela de Cascais hoje de madrugada explicaram que a acção se destinou a alertar os cidadãos para a necessidade de "olhar por vários caminhos" a nível político.»

Ponto 1. Estes senhores sabem o que lhes aconteceria se, durante a Monarquia, fossem fazer o mesmo com bandeiras republicanas? (É só para saber se têm alguma ideia da diferença que faz o país em que vivem hoje.)

Ponto 2. O que estes senhores têm para propor como "caminhos a nível político" é uma bandeira? (É só para saber se acham que esse é o debate de que o país necessita hoje.)

Costumo dizer a um amigo meu (monárquico): se eu vivesse em Espanha teria mais em que pensar do que em militância republicana. Por achar que é preciso saber quais são os problemas de uma comunidade em cada momento e agir nesse sentido - sem divertimentos nem distracções. Isso resume o que eu penso destas "acções". (Que, bem vistas as coisas, são apenas propaganda a certos media semi-informais. Mas se ao menos assumissem isso...)

o PS é mesmo igual à direita?

15:28

Há dois partidos, que se reclamam do espaço da esquerda, a procurar afanosamente mostrar que o PS é igual à direita. Não é mera treta eleitoral. É, isso sim, pura irresponsabilidade. Basta ver os mais recentes cartazes do CDS/PP, que mostram onde esse partido fará exigências para ir para o governo com o PSD, para avaliar. Brincar com o fogo é perigoso. Se o PCP e o BE pensassem mais no país do que na glória de mais uns votos, ou pelo menos não desligassem uma coisa da outra, não arriscariam entregar o país a esta gente.



N-O-J-E-N-T-O



O "Avante!" é o órgão oficial do Partido Comunista Português. Lemos lá hoje, em linha, pela pena de Leandro Martins, chefe de redacção do "órgão": «Já nem falamos do antigo arguido no processo da Casa Pia, Paulo Pedroso que, recebido na Assembleia com palmas dos seus correligionários, após ter ganho a sorte grande no segundo recurso para a Relação, vem agora, qual galinho da Índia, dar conselhos ao seu partido.» (aqui)

É este o "ser de esquerda" de que fala o PCP? Não vou dar-me sequer ao trabalho de mostrar em que medida isto decorre de uma mentalidade fascista. Tentar mostrar que para um certo PCP profundo o Estado de direito é uma abóbora, seria chover no molhado. Na circunstância basta dizer que isto é nojento. N-O-J-E-N-T-O.

Depois ainda há quem se escandalize quando dizemos que certos partidos tão de esquerda enveredaram pelo mais abjecto populismo.

(Paulo Pedroso responde com nível, aqui.)

19.8.09

política interior



Notícia do Sol: aqui.




ainda o espírito Pulo do Lobo




«PGR diz que não recebeu queixas da Presidência sobre alegadas vigilâncias», titula o Diário Económico de hoje.

Bruno Proença, Director-adjunto do mesmo DE, escreve em coluna de opinião:
«A situação [económica]é suficientemente séria para exigir bom senso, cuidados redobrados e sentido de Estado aos principais actores políticos. Por isso, a notícia sobre as suspeitas de que os assessores do Presidente da República estão a ser vigiados é difícil de compreender. É uma notícia que não tem meio-termo. Se é verdade, é um caso gravíssimo. Está-se perante um problema de Estado que tem de ser comunicado às autoridades judiciais. E a Procuradoria-Geral da República informa que não recebeu qualquer denúncia de Belém. Se é mentira deve ser prontamente desmentido. Por isto, o silêncio da Presidência da República é ensurdecedor.»

E temos agora mais qualquer coisa, no Público: «Procurador afasta hipótese de investigar suspeitas de escutas a assessores da Presidência». Explicação: «Em declarações ao PÚBLICO, Pinto Monteiro disse entender que “neste momento, não há lugar a qualquer tipo de averiguação, visto que não existe nenhum facto concreto”.»

Cavaco não tem emenda. Continua a imitar-se a si mesmo num momento específico: quando veio, com hipocrisia ao quadrado, explicar a hipocrisia com que falara quando disse que não sabia de nada do assunto X por que tinha estado no Pulo do Lobo.

Cavaco tem assessores a falar mal, em público, de políticas sectoriais de que foram ministros. Tem assessores a ir para os tribunais contra ministros deste governo. Não pareceu muito espantado quando o Semanário publicou, já a 7 de Agosto, que o programa eleitoral do PSD estava a ser feito com assessores de Belém. E o PSD também parece ter gostado da notícia, já que o repetiu em site da sua responsabilidade. Mesmo assim Cavaco quer que o vejamos com isenção e quer que acreditemos na sua novela de espionagem.
Teremos de perguntar como André Macedo, hoje no jornal i: «Cavaco quer ser árbitro ou jogador, presidente ou primeiro-ministro?».


18.8.09

Fernando Manuel Ilídio

16.8.09

democracia: quem a percebe e quem não



Vasco Pulido Valente, na sua habitual dose de ódio cego, no jornal habitual do ódio cego ao PS, escreve: «E quando Sócrates nos resolve impingir a sua apologia sob forma de um artigo de jornal, a dúvida [saber se o PS enlouqueceu] aumenta.»

O mesmo Público noticia: «O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, continuou a ofensiva na sua “guerra” pela reforma do sistema de saúde norte-americano, com um texto de opinião publicado domingo no "The New York Times".»

Se eu quisesse ser tão ridículo como VPV diria que Obama copia Sócrates de perto. Em vez disso digo apenas que é preciso estar muito perturbado para não compreender o interesse de que os líderes políticos expressem a sua opinião na comunicação social. Nos EUA ou cá.


há quem não aprenda nada com a história?

a candura da senhora Manuela

14.8.09

formas de ataque



Hillary Clinton termina na ilha do Sal périplo por África: "Sim, é possível, a boa governação em África. Olhem para Cabo Verde!"

«A secretária de Estado norte-americana terminou hoje um périplo de 11 dias por sete países africanos tecendo os mais rasgados elogios às autoridades de Cabo Verde, "modelo de democracia e progresso económico".

"O Presidente Obama e eu dizemos: sim, é possível, a boa governação em África. Olhem para Cabo Verde", disse Hillary Clinton durante uma conferência de imprensa de meia-hora dada com o primeiro-ministro José Maria Neves, num hotel da vila de Santa Maria, na ilha do Sal, onde chegara ontem à noite, vinda da Libéria.

"Em todos os países por onde passei havia aspectos positivos e outros negativos. Aqui, a lista dos positivos é maior do que a dos negativos. O que aqui ouvi é música para os meus ouvidos", afirmou a secretária de Estado, que manifestou a intenção de voltar, dessa vez mais em jeito de passeio, com o marido, o antigo Presidente Bill Clinton.»

Este é o método de realçar o que está bem feito. Muitos preferem o método de realçar o que está mal feito. Por cá, esse método negativo é usado para disfarçar o balanço.

o problema dos "vão sem mim que eu vou lá ter"



Bruno Proença, Director-Adjunto do Diário Económico, hoje no seu jornal:

«Ao fim de três trimestres em contracção, a economia registou uma subida (0,3%) entre Abril e Junho, relativamente aos primeiros três meses do ano. É a maior subida desde o final de 2007 e coloca Portugal ao lado da Alemanha e França no pelotão da frente da recuperação económica. Em termos homólogos, a contracção do PIB é ainda significativa (-3,7%) mas menos má do que no ano passado (-3,9%). Também em termos homólogos, Portugal tem dos melhores registos da zona euro.»

«(...) hoje foi um dia bom para a economia nacional. Há uma luz ao fundo do túnel que deve dar força a todos os que não desistiram e continuam a trabalhar e a lutar contra a crise. Há razões para estar moderadamente optimista. Infelizmente, muitas velhos do Restelo levantaram-se a menorizar o crescimento económico. É a parte do país que fala muito mas faz pouco. Relembro a música dos Deolinda que retrata as duas partes de Portugal. Na música, vence a moeda má. A parte do "agora não"; do "vão sem mim que eu vou lá ter". Espero que desta vez a história seja diferente.»

Na íntegra, aqui.

notícias da coligação negativa



Bloco de Esquerda, pela voz de Helena Pinto, diz que desemprego desmente o “fim da crise”.


Teixeira dos Santos hoje ao Diário Económico: «Para que a crise acabe, o crescimento deve reflectir-se no emprego.» Acrescenta o DE, na primeira página: «Fernando Teixeira dos Santos salienta que a subida do PIB de 0,3% representa o fim da recessão mas não da crise. Para isto, é preciso haver criação de emprego.»

Lembramos que Teixeira dos Santos não é do Bloco de Esquerda; é Ministro do actual governo. Para repetir as declarações avisadas dos ministros, não vale a pena o Bloco dar-se a tanta excitação. Ou a deputada Helena Pinto está, sim, a repetir António Borges? É que o truque é o mesmo: quando as coisas correm mal, é culpa do governo; qualquer boa notícia, é "culpa" dos franceses e dos alemães.

quem é quem, capítulo XXXIII

O quotidiano Público, que ainda compro à sexta-feira (por causa do Ípsilon), faz constar hoje no P2 que "a última teoria da conspiração que vem da América" pretende que Obama não pode ser presidente por não ser americano.
A caixa que acompanha o artigo é um bom resumo. Ilustra a cara de uma senhora e reza assim: «Orly Taitz [a tal senhora, aqui ao lado] refere-se a Obama como uma "combinação perigosa" de "comunismo radical", de fundamentalismo islâmico absorvido no Paquistão e na Indonésia de Sukarno" e "o ambiente mafioso de Chicago".»
Lida esta prosa, e visto o alto coturno da teoria da senhora Orly Taitz, só me esmaga uma questão: será Orly Taitz o senhor Fernandes da América?


10.8.09

os amigos de Barroso

16:16
Imagem daqui.


João Marques de Almeida escreve hoje no Diário Económico um artiguinho intitulado "Chavez contra Obama". Apresenta-se nessa circunstância como Professor Universitário, mas é pertinente neste caso saber que se trata de um membro do gabinete de José Manuel Durão Barroso, o actual presidente da Comissão Europeia.
No texto, de pura luta política, é feita uma identificação clara (uma salgalhada, mais exactamente) entre "obamaníacos", "anti-Bushistas" e "Chavistas". Um grande saco de gatos, portanto. Eu, tendo sido "anti-bushista", mas não sendo nem "obamaníaco" nem "chavista", reconheço nesta forma de falar a linguagem da cimeira dos Açores. A linguagem maniqueísta do "bem" contra o "mal", com a qual os pretensos lidadores do bem se arrogam o direito de todas as ilegalidades contra o mal. O que, vindo de quem vem, não me espanta. Andam por esses lados os que estão sempre prontos a esquecer a parte da história que não interessa aos seus objectivos políticos (mesmo que escrevam como "professores universitários", talvez para se darem ares de credibilidade). (Caberia perguntar a JMA onde se pode ler a sua condenação do golpe de estado que tentou derrubar Chavez pela força, já há uns anos - para averiguarmos de quão estremoso é o seu escrúpulo democrático.)
Contudo, para lá dessa deformação ideológica, que para um membro do gabinete de Durão Barroso deve ser propriamente uma exigida deformação profissional, o artiguinho contém uma clara desonestidade intelectual. Falar do problema das bases militares americanas na Colômbia como se elas só causassem comichão a Chavez e seus aliados - é uma pura mentira. É sabido que outros países da região, democráticos e insuspeitos de chavismo, também querem ter mais esclarecimentos acerca do significado dessa jogada. E João Marques de Almeida, sendo quem é e tendo sido quem foi, não é pessoa para ignorar isso. Portanto, se atira para debaixo do tapete elementos que conhece, e que perturbariam o simplismo do seu raciocínio, está a praticar uma desonestidade intelectual.
É por estas e por outras, por continuarem a ser estes os povoadores do território europeu de Barroso, que alguns (muitos?) acham que a esquerda europeia não devia apoiar o Zé Manel para novo mandato de presidente do executivo comunitário.


8.8.09

"a ideologia dos robôs"



No Robotizando, blogue do Expresso da responsabilidade da Sociedade Portuguesa de Robótica, há uma fresquíssima entrada com o título "A Ideologia dos Robôs", da autoria de Pedro Lima, actual presidente daquela Sociedade. Começa assim:

«Um candidato às últimas eleições presidenciais portuguesas declarou, numa das actividades de campanha, que "duas pessoas sérias na posse da mesma informação não podem senão ter a mesma opinião". Não vamos discutir aqui, por não ser o espaço próprio, se tal afirmação pode ser considerada uma verdade insofismável numa sociedade humana - mas garantimos que no mundo dos robôs há teorias e práticas que a põem em causa, sem margem para dúvidas! »

Vale a pena ler o resto: aqui.


o precipitado anúncio da morte do Estado Social

18:02

Piter Saura, Cabeza Soñadora V


Alexandre Homem Cristo, no Diário Económico de ontem, em texto intitulado "Irreal social", descascava nos defensores do Estado Social: "O Estado Social aguarda que alguém lhe passe a certidão de óbito". O governo socialista é acusado de não ver isso (aparentemente, por esse governo se guiar por "números e estatísticas", em mais uma instância do argumento do geocentrismo).

Ora, vale a pena sugerir a Homem Cristo a leitura de uma notícia da edição de hoje do Expresso, intitulada "Estados Unidos - Saúde será vitória histórica". Aí se explica que o presidente daquele país trava uma luta política gigantesca para criar um sistema nacional de saúde pelo menos digno dessa designação. Parece que Obama anda distraído e se tem esquecido de ler a prosa ilustrada de Homem Cristo. A notícia destaca uma das verdadeiras razões para os Republicanos se oporem a esta reforma estrutural: "ela será tão popular que custará o poder aos republicanos por uma geração". Parece que o anúncio da morte do Estado Social é um pouco exagerada.

Mas, pronto: Obama e a sua administração podem ser esplendidamente menos informados da máquina do mundo do que um colunista à procura de argumentos para atacar o PS neste jardim à beira-mar plantado durante uma campanha eleitoral. Essas coisas acontecem. Contudo, mais curioso ainda, é que o texto de Homem Cristo dá uma explicação económica para o óbito do Estado Social: não há dinheiro. Nem caminho por onde arranjar como financiar o reforço do Estado Social. Portanto, lá está, o óbito é o resultado da falência. Concordamos num ponto: os sistemas públicos que configuram concretamente o Estado Social devem ser geridos de forma a não desperdiçar o dinheiro dos contribuintes. E não podemos governar como se o dinheiro caísse do céu.

Entretanto, a notícia diz ainda outra coisa interessante: os Estados Unidos, apesar de estarem relativamente mal colocados em cuidados de saúde a nível mundial (muito atrás de Portugal, por exemplo), gastam muito mais do que outros que fazem melhor: Portugal gasta 10% do seu PIB em saúde, os EUA gastam 16%. Por culpa de o sistema de saúde dos EUA ser muito generoso? Não; por praticamente não existir, potenciando um verdadeiro desbaratar de recursos em seguros privados que em geral não garantem uma protecção minimamente adequada. Dirão: mas não é o Estado que assim gasta, são os privados. Esse seria um curioso argumento, especialmente se viesse do lado dos que vêem a "sociedade civil" como oposta ao Estado e mais digna do que os mecanismos públicos. Portanto, mesmo por razões económicas, seria conveniente ter cuidado com o anúncio da morte do Estado Social. Cuidar da sua viabilidade: isso, sim, parece razoável - mas dificilmente compatível com o espírito liquidacionista.

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comédias



Continuam alguns a querer alimentar polémicas insanes, colocando-se em bicos de pés (caso do Público) ou metendo-se nas competências de outros órgãos do Estado.
Veja-se mais esta "notícia" do Público, onde o sr. Fernandes há muito esqueceu qualquer pingo de decência: «Nova formação do Conselho de Bioética pode favorecer o Governo». Ora, como explica Sofia Loureiro dos Santos, no Defender o Quadrado, neste apontamento intitulado Intrigas palacianas, trata-se de cada órgão do Estado fazer a sua parte, de acordo com a lei. E seria saudável que deixasse de haver tanta gente, a começar no Palácio de Belém, a confundir os negócios do Estado com a defesa de supostos amigos políticos. O que se queria? Que Cavaco nomeasse gente para órgãos onde a legislação não prevê tal coisa? Haja decência.


7.8.09

emprego, mentiras e coisas a fazer



Daniel Amaral escreve hoje no Diário Económico:
«No programa para as legislativas que viria a ganhar, o PS fixou como objectivo criar 150 mil novos empregos. Entre Março de 2005 e Junho de 2008, foram criados 134 mil, numa trajectória que, a manter-se, elevaria aquele número para 165 mil em 4 anos. Mas sobreveio uma crise do tamanho do mundo e o emprego foi por água abaixo. Leitura das oposições, do CDS ao PCP: Sócrates é mentiroso e o Governo é incompetente. Eis um exemplo paradigmático do grau zero a que o debate chegou.» (Integral aqui: O emprego.)

[Entretanto: Recessão já atingiu o ponto mais baixo, garante OCDE.]

a estratégia da infantilização

10:00





Na secção "crime" da edição de ontem do i pode ler-se o título “Professor que matou os irmãos estava perturbado com o novo modelo de avaliação”. O professor que, segundo a notícia, matou os irmãos no quadro de uma discussão de heranças, há dez anos que era seguido por um psiquiatra, teria falta de tempo para as funções docentes (talvez por ter de gerir uma padaria com avultada dívida à Segurança Social), tendo chegado a contratar outra professora para fazer parte do seu trabalho docente durante vários meses (uma espécie de substabelecimento do "negócio"?). Mesmo assim, o título que o quotidiano acha apropriado é o que liga o crime à avaliação de desempenho dos professores.

Deveríamos achar extraordinário – se não evidenciasse quão longe foi a estratégia de infantilização dos professores, que alguns deles toleram vá lá saber-se porquê. A coisa não é nova. Daniel Sampaio (Pública, 16/11/08) escreveu que “a avaliação fomenta problemas interpessoais entre professores”, como se eles fossem incapazes de fazer da avaliação um exercício profissional (como fazem tantos outros profissionais altamente qualificados) e só pudessem cair na armadilha de fazer disso uma questão de conflito pessoal. Lídia Jorge (Público, 09/01/09), apesar de algumas considerações sábias, também achou que esta avaliação seria “um sistema que transforma cada profissional num polícia de todos os seus gestos, e dos gestos de todos os outros”. A confusão entre relações profissionais e relações pessoais, misturada com uma concepção paternalista das relações de trabalho, foi chamada a alimentar a revolta da classe profissional – como se alguma classe pudesse ser valorizada com atestados de menoridade.

A estratégia de infantilização serve estratégias de bloqueio, serve as coligações negativas assentes no medo e na recusa sem alternativa, serve a árvore que prefere secar a mover-se. A estratégia de infantilização serve para paralisar tanto o avanço como a verdadeira negociação e o compromisso e, como tal, é a estratégia do vespeiro (cf. Eduardo Pitta no Diário Económico de ontem). O problema dessa estratégia é que o vespeiro em fúria voa em círculos mas não avança. E precisamos mesmo de continuar a avançar.

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mas Cavaco não queria aliviar as suas férias?



Cavaco "estupefacto" com a não-recondução de João Lobo Antunes ao Conselho Nacional de Ética.


O Público, fazendo-se eco do Sol, escreve: «“A Casa Civil do Presidente da República está estupefacta. Não apenas pelo facto de o nome de João Lobo Antunes não figurar na lista das pessoas designadas pelo Governo para fazerem parte do Conselho, como também por, até ao momento, sobre o assunto não ter sido dada nenhuma explicação à Presidência”, reagiu ao semanário “Sol” fonte oficial de Belém.»

JLA estaria naquele lugar por nomeação do Governo, segundo a notícia. Sendo assim, o que teria o PR a dizer sobre isso? Ou está prevista uma caução presidencial a essa nomeação governamental, e o Público não a menciona? Cavaco devia estar mais sossegado. Já bem basta vir a público queixar-se de que leva muitos dossiers legislativos para despachar em férias. Devia até estar agradecido por o governo não o sobrecarregar mais pedindo-lhe opinião sobre nomeações governamentais.
Ou será que Cavaco entende dever, enquanto presidente de todos os portugueses, proteger especialmente os seus mandatários em tempo eleitoral? Ou terá Cavaco saudades de quando fazia nomeações governamentais? Já não basta que as listas do PSD pareçam ter sido feitas com recurso às velhas agendas do antigo primeiro-ministro?

3.8.09

alertas



Já havia o Alerta Laranja. Agora também há o Alerta Vermelho. Pelo magnífico João Coisas. Clicar nas imagens. Via SIMplex.



(tres)leituras de ferias

cuidar dos vivos


Daniel Bessa, no suplemento Economia do Expresso, no sábado passado:
«Sou dos que defendem que, neste século, a economia portuguesa cresceu bem. Cresceu pouco, desesperadamente pouco, mas bem: orientada para o mercado externo, com crescente intensidade tecnológica, suportada por trabalho qualificado, conhecimento e inovação.
As empresas de que nos chegam as boas notícias são na sua maior parte deste tipo. A balança tecnológica (...) tornou-se positiva. Algumas empresas a que ainda chamamos industriais, das mais bem sucedidas, são hoje empresas de engenharia e de desenvolvimento de novos produtos.
Há, é claro, um lastro de empresas mais tradicionais, algumas delas grandes, em grande dificuldade, e que reclamam protecção. Cada uma destas empresas que cais pode valer, momentaneamente, muito mais do que várias das acima referidas. Por isso estamos em tanta dificuldade, e crescemos tão pouco. (...)»

Este texto de Daniel Bessa ilustra de outro modo, o que está errado com que chamei o argumento do geocentrismo na actual política portuguesa. É preciso compreender mais do que aquilo que está mesmo à frente dos nossos olhos.

o argumento do geocentrismo

16:18



«Os mais recentes historiadores da ciência entendem que, se se começar com a experimentação sem pressupostos teóricos, é mais provável que se descubram os mecanismos de Aristóteles que os de Galileu. Kant atribui as revoluções da ciência moderna à coragem de Copérnico em contradizer o testemunho dos sentidos.»
Susan Neiman, Evil in Modern Thought, 2002 (tradução portuguesa na Gradiva)


Um certo número de intervenientes no debate público do estado da nação tem-nos proporcionado um delicioso torcidinho estilístico, uma corda para salvação dos aflitos, um salve-se quem puder de última hora para quem não consegue evitar olhar para a realidade através do filtro do seu próprio pessimismo (mesmo quando esse pessimismo é puro artifício). Essa flor do estilo consiste em opor as estatísticas (frias e inertes, supõem) ao calor da sensação imediata (o verdadeiro saber, pretendem). Exemplo: “ A escola está melhor nas estatísticas, mas nós vemos que as escolas estão pior, porque o sentimos, basta visitá-las.” Em geral, o que incomoda esses debatentes é que, em muitíssimos casos, aceitar as estatísticas é ter evidência de quanto este governo do PS fez avançar o país. Embora, com frequência, adorem estatísticas quando elas mostram o que falta fazer.
O capitão daquela frota de argumentos sensacionistas é a acusação de que “o governo trabalha para as estatísticas, mas as pessoas não são números”. Não vale a pena tentar explicar a quem assim opina que as estatísticas e os indicadores são, as mais das vezes, o fruto (imperfeito, claro, mas que se espera perfectível) de um trabalho aturado, longamente refinado em comunidades ao mesmo tempo mais ou menos especializadas e mais ou menos alargadas, distribuídas por muitos lugares deste mundo, com o fito de tentar ver mais longe e mais fundo do que a espuma dos dias. E com o fito consequente de nos ajudar eventualmente a fazer melhor. Agir a longo prazo e não apenas para amanhã. Mas eles não, eles querem é as sensações do que está à frente dos seus próprios olhos. Sem números pelo meio.
Bastaria dizer-lhes que, pela bitola que usam, a Terra ainda é o centro do universo e o Sol gira à nossa volta. Não é isso que, cada dia, os nossos olhos vêem claramente?

[outra versão no SIMplex]