A 9 de Janeiro de 2012 o Público publicava esta notícia: Vaticano censura livro sobre “diversidade familiar”.
Lia-se no Público: «Uma editora católica argentina foi obrigada a retirar do mercado um livro sobre sexualidade e diversidade das famílias. O seu autor, o pastor metodista Pablo Manuel Ferrer, defende que “a sexualidade é um desejo válido”.»
Como se aplicou essa "condenação"? Por carta do responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal norte-americano William Levada. A editora foi obrigada a retirar das lojas todos os exemplares da obra, a eliminá-la do seu catálogo e ficou proibida de a publicitar em qualquer das suas publicações.
Censura é censura, uma prática que conhecemos das ditaduras. Não se tratou neste caso, sequer, de reafirmar a "linha oficial" perante uma divergência no seio das hostes. Tratou-se de impedir uma editora de ter à venda um livro, cujo autor nem sequer é católico, onde se expressava uma interpretação do Novo Testamento que difere da interpretação dos detentores do poder dentro da Igreja Católica.
Aberrante.
Aqueles que seguem com expectativa, ou apenas curiosidade, a acção do novo Papa, Francisco, talvez gostassem de ter resposta à seguinte pergunta: poderia aquele tipo de censura acontecer hoje?
Não venho para vos dar uma resposta simples. Uma possível resposta simples seria: o Cardeal Levada continua no seu posto: escândalo! Outra resposta também simples, embora de sinal contrário, seria: este Papa mudou o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé: aleluia, confirma-se a mudança! Nenhuma destas respostas simples funciona. É que, mesmo antes da mudança de Papa, já tinha mudado o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, por resignação do Cardeal Levada (por motivo de idade, aos 75 anos têm de pedir a resignação). Em Julho de 2012 passou a ser Monsenhor Gerhard Ludwig Müller. Não há, portanto, uma resposta simples para aquela pergunta. Isso torna o assunto mais estimulante para pensar: poderia aquele tipo de censura acontecer nestes tempos de Francisco?