25.11.13

Ramalho Eanes.


Hoje há uma homenagem a Ramalho Eanes. Muitos, por aí, ridicularizam o evento. Porque se aborrecem de morte com uma democracia parlamentar normal e não perdoam que o 25 de Novembro não tenha sido uma aceleração da "revolução", porque tiveram dificuldades partidárias com os apoiantes de Eanes, porque não suportam o estilo "certinho" do general ou lhe recriminam uma certa ideia de verticalidade.
A minha pergunta é: precisamos de ser (ou ter sido) apoiantes de Eanes para concordar com uma homenagem?
Votei em Eanes para presidente, nunca votei pelo partido dele (objecto político que achei um disparate), acho-o por vezes um chato (especialmente quando se agarra ao microfone para explicar a sua versão disto ou aquilo nos tempos pós-25 de Abril), não admiro que ele tenha dado a cara por Cavaco - mas acho perfeitamente pertinente que lhe façam uma homenagem. Julgo que nunca pôs os seus interesses pessoais acima do que ele achava ser o interesse do país, exerceu o mandato de presidente com dignidade, ganhou com o serviço público menos do que o direito lhe reconhecia, cometeu erros políticos que nunca passaram por violentar a integridade ou a respeitabilidade dos seus adversários. Tudo somado, isso não é pouco.
Não tenho tendência para homenagens e não estou em sintonia ideológica com o homenageado, razões pelas quais não iria a tal reunião. Mas não temos de conceber só as festas em que queremos dançar. Olhando para trás, ele prestou serviços importantes em momentos difíceis - e não cometeu todos os erros que estavam ao seu alcance ! Por que não fazer-lhe uma homenagem? Acho que temos de aprender a reconhecer o valor que existe para além dos erros cometidos e para além das diferenças. E aprender a não andar sempre a morder as canelas daqueles que não são os nossos heróis, porque há espaço na democracia para heróis de todos os feitios. Por essa razão, acho inteiramente justo que se faça um dia uma homenagem a Eanes. Por que não hoje?