Acredito sinceramente que temos o dever, não só de combater os políticos que fazem ao nosso país coisas que nos parecem erradas, mas também o dever de denunciar aqueles que tratam com desconsideração a cidadania. É tão importante combater o Moedas, o Maduro, a Maria Luís e o relações públicas deles todos (Portas), como denunciar aquela escritora (não coloco aspas, porque não sou crítico literário e nunca li nada dela) que acha uma indecência que as pessoas se manifestem em lugar de estaram quedas e caladas a "deixar que nos mandem".
Ao mesmo tempo, acredito sinceramente que não é chamando "merdas" e "lixo" a qualquer uma daquelas personagens mencionadas no parágrafo anterior que se faz o combate democrático. O insulto, mesmo no FB, ou nos blogues, ou mesmo a coberto de humorismo, leva quem o pratica a descer ao nível do insultado.
Colocando isto noutro plano, e já que estamos a falar de escrutínio das intervenções civicamente relevantes no espaço público, julgo que fazemos mal em dispensar o humorismo deste escrutínio. O humorismo, com ou sem graça, é - e ainda bem que é - um elemento do debate público em sentido lato. É claro que o humorismo não pode ser escrutinado com as mesmas regras com que olhamos para os discursos políticos, mas cabe perguntar: o humorismo não tem regras? Acho que tem. Há uma distância abismal, em graça e em decência, entre a rábula do Gato Fedorento à hipocrisia do comentador Marcelo sobre o aborto (aqui há uns anos) e o Bruno Nogueira a chamar merdas à tal escritora que eu não sei como escreve porque nunca li. E, no limite, o humorismo pode ser tão boçal como as opiniões de alguém que gostaria que o povo ficasse em casa a deixar-se mandar até novas ordens.
Aliás, nunca achei graça ao sentimento de impunidade que parece afectar alguns escribas que se julgam com graça. É bem exemplo do que quero dizer um tal Comendador Marques de Correia (também conhecido por Henrique Monteiro), que escreve todas as semanas no Expresso - por ter graça? Não; para poder dizer, a pretexto da graça, aquilo que seria indefensável se fosse assumido em nome próprio. Mas sempre o Comendador na mesma linha opinativa do jornalista, porque as graçolas não são para cair em saco roto e querem-se bem afinadas no tiro ao alvo. Claro: sempre resguardadas pelo escudo invisível da graçola: ninguém vai responder à figura literária do Comendador, que assim pode dizer o que bem lhe der na gana. Gabo a paciência a José Sócrates que, na sua nova liberdade e à-vontade, se deu ao trabalho de escrever (hoje no Expresso) uma crónica de um Comendador Anónimo a explicar como era rasteirinha uma anterior crónica do Comendador Henrique Monteiro a tentar menorizá-lo a coberto do seu humorismo duvidoso. Confesso, contudo, que a cereja no topo do bolo foi a resposta do Jornalista Marques de Correia: foi mesmo incapaz de esconder que tinha enfiado o barrete!