Continuando o debate sobre o acórdão do Tribunal Constitucional que declarou inconstitucionais os cortes dos subsídios, este post no Blog Sedes contribui com dois elementos relevantes.
Primeiro, chama a atenção para a diferença entre dois tipos de capitalistas: por um lado, os que arriscam o seu capital como empresários e criam emprego; por outro lado, os que vivem dos juros de emprestar dinheiro aos primeiros. Concordo que a distinção é socialmente importante e que ela devia ter efeitos práticos na política económica - embora daqui não se possa deduzir que um tratamento equitativo neste caso esteja protegido pela lei fundamental, coisa que o autor do post não cura de mostrar.
Segundo, o post em apreço pergunta: "será que a Constituição da República Portuguesa discrimina os cidadãos consoante o seu contributo para a riqueza nacional seja feito por via do trabalho ou do capital?". Aqui, alto e pára o baile: estou cansado desta teoria de que "o trabalho" é apenas uma forma económica. O meu trabalho é parte do que é essencial na minha vida; a minha dignidade como pessoa passa pelas minhas condições de trabalho; quem trabalha quando uma pessoa trabalha não é um "factor de produção", não é um robô, é um ser humano que queremos tenha condições de dignidade. O que diz respeito ao trabalho não pode esgotar-se no "contributo para a riqueza nacional", naquele sentido puramente económico acima usado. O trabalho são as pessoas, o capital é um coisa imaterial que não tem nem deixa de ter dignidade. Também não quero atentar contra a dignidade do capitalista, mas o capital do capitalista não é a mesma coisa que o trabalho do trabalhador. A menos que se partilha a ideia de que só há "coisas" no mundo - e que nós e o dinheiro somos apenas coisas iguais entre um mar de outras coisas.