22.12.11

os traquinas de ferro.



Legislação laboral: Propostas do Governo dão às empresas 23 dias a mais por ano.

A agenda ideológica do governo continua a ser aplicada. Uma parte dessa agenda está no seu conteúdo: o empobrecimento é apresentado como normal; tudo pode ser cortado, tudo está em causa, tudo é precário. A agenda da austeridade é tornar cada português que viva do seu trabalho um precário. Que ganhemos menos, nem sequer é o objectivo em si mesmo: mais importante é que sejamos eternamente dependentes, porque essa é a receita da submissão.
Outra parte dessa agenda está no método: o sistemático desrespeito pela concertação social representa a mensagem central, a saber, manda quem pode, seja o patrão seja o "Estado", e "os de baixo" que obedeçam. Um Passos Coelho não chega para fazer uma senhora Thatcher, mas um PPC, mais um Vítor Gaspar e um Álvaro, juntos e bem colado, fazem um arremedo de Dama de Ferro. Uns traquinas de ferro. A sua grande ideia de reforma social é a mesma: partir a espinha aos sindicatos - numa acepção abrangente: partir a espinha a tudo que não seja patrão ou chefe, é a receita social destes pequenos de ferro. Não espanta: a "liberalização" da economia resulta muitas vezes dessa "espontânea forma de liberdade" dos que têm poder contra os que o não têm, a liberdade que "os de cima" gostam de ter para esmagar "os de baixo".
Entretanto, a Comissão Europeia, que não consegue de facto produzir um único acto a caminho de uma saída para a crise, vai fazendo a única coisa de que é capaz: falar. Mais propriamente: dizer coisas. Ele é o comissário que diz que empregos de 400 euros é o que a Espanha precisa. Ele é o relatório que diz que há interesses instalados que travam as reformas em Portugal. Tudo, como se vê, ideias concretas, bem fundamentadas e, essencial!, viradas para o interesse geral. Entretanto, o insondável Barroso está definitivamente desaparecido. Um saco de ar que nem um ou outro doutoramento Honoris Causa em terras lusas consegue encher de alguma da substância que se esperaria do chefe do executivo comunitário em tempos de crise. No fundo, o híbrido Merkozy e o senhor Cameron estão a tratar Barroso como presidente da Associação de Estudantes da Escola Básica: deixem-no sentar-se à mesa e falar um pouco, mas não lhe liguem que ele há-de habituar-se.