Sempre fui - e continuo a ser - um claro defensor do direito à greve. Sempre recusei aqueles ataques às greves justificados com os prejuízos e incómodos que as greves provocam - pois esse é o único modo de elas se fazerem sentir. Sempre entendi que apoiar ou não uma greve deveria depender de um juízo acerca da sua justeza própria.
Ora, no caso da presente greve dos maquinistas, essa acção parece-me francamente condenável. Os maquinistas querem impedir que a empresa proceda à averiguação das responsabilidades que alguns deles terão tido no incumprimento dos serviços mínimos em greves anteriores. O que o sindicato pede, portanto, é a impunidade para os maquinistas: fazem greve para não terem de respeitar o Estado de direito e os seus deveres laborais. Isso é completamente inadmissível. Aliás, acho bizarro que possa ser legal uma greve que tem como objectivo promover a impunidade dos que furam a legalidade. Mais ainda: um sindicato que promove o desrespeito pelas regras do exercício do direito à greve é um sindicato que está a minar a solidez do edifício legal que envolve essa arma dos trabalhadores.
Por isso, a actual greve dos maquinistas é repugnante. Não por nos causar transtorno ou prejuízo, mas por ser um abuso às regras que regulam o próprio direito à greve.