6.12.11

eu, que nem sou economista...


... não compreendo.
Parece que, resultado de estarmos a fazer poucos filhos e de andarmos a morrer menos do que já morremos, a sustentabilidade dos nossos sistemas de pensões é problemática. Dizem as más línguas que, poucos a trabalhar e a cotizar-se, muitos a querer a pensão a que conquistaram o direito, está por pouco a falência do sistema de pensões e, em geral, o descalabro da protecção social a que queríamos ir-nos habituando.
Se tudo isso é certo (se não é, digam, para eu ficar mais descansado, e ao mesmo tempo descartar certos argumentos políticos que por aí andam), se tudo isso é certo, por qual razão tanta alegria por uma mão cheia de bancos terem depositado os seus fundos de pensões nas mãos do Estado? Se, em geral, os compromissos com as pensões de reformados futuros são vistos como bombas-relógio, acerca das quais as únicas divergências incidem sobre o momento exacto e a dimensão do estoiro, qual a razão para tanta alegria? Os bancos, grandes amigos da nação, em modo altruísta, sacrificaram-se e entregaram 6 mil milhões de euros ao Estado, por amor aos nossos bonitos olhos, em seu (deles) prejuízo? Ou estão (mais uma vez, porque não é este o primeiro governo a fazer tal coisa) a comer-nos as papas na cabeça, como aos tolos?
Do mesmo passo, eu, que nem sou economista e não percebo nada destas coisas sérias, ainda pergunto se se justifica esta pressa em gastar a massa que os bancos entregaram no negócio. Eu pensava que os fundos destinados a garantir as nossas reformas futuras tinham de ser geridos com grande cautela, para se reproduzirem (se possível, como coelhos) e não se esgotarem ao dobrar da esquina, quer dizer, para daqui a muitos anos ainda serem devidamente compensados pelo seu esforço aqueles que contribuíram para esses fundos, descontando mês a mês do seu salário. Só que, afinal, recebida a maquia dos bancos, toca a distribuir (virtualmente, por enquanto) por estes ou aqueles. É para o sector da saúde pagar as suas dívidas, por exemplo. Acho excelente que se encontrem meios de o Estado pagar as suas dívidas, maximamente se isso redundar em injecção de dinheiro na economia, criando actividade e emprego. Mas não percebo muito bem esta coisa de começar a gastar o cacau dos fundos de pensões.
Tal como não percebo que nada disto tenha estado em cima da mesa durante a análise do OE 2012. Esconder, debaixo da retórica política do sacrifício, uns "meros" 6 mil milhões de euros, fazendo de conta que eles não existem quando se está a discutir cada tostão para 2012, retirando essa verba da argumentação relativa às prioridades, para depois vir o PM, em espectáculo a solo, sacar montantes da manga com passes de magia, é desprezar o parlamento, a quem cabe conhecer os dados da situação e decidir, assim informado, o que fazer às dores e aos prazeres que há a gerir. O que este episódio mostra é que avança, como um tsunami, pelas nossas instituições dentro, um absoluto desprezo das "elites governantes" pela substância da democracia, que é o debate informado e leal acerca do mundo que existe e da forma como lidamos com ele.