Os políticos podem cometer crimes. Quer dizer, no exercício de funções podem agir em desrespeito por preceitos legais. Devem ser punidos por isso. Isso não é criminalizar a política: é aplicar aos políticos o primado da lei, que deve valer para todos. A condenação do ex-Presidente francês Jacques Chirac por corrupção inclui-se nesse campo.
Criminalizar a política é coisa muito diferente: é querer tratar escolhas políticas e de governo como crimes, em geral apelando a "crimes" que não estão assim definidos em lei nenhuma. Tentar criminalizar a política é uma forma particularmente abjecta da política do ódio, expediente que Hitler já conhecia - e que, infelizmente, continua a ser usado por alguns exaltados de serviço hoje em dia.
Convém não confundir as coisas. É que, se há "crime político" que devia ser perseguido, é a instigação ao ódio irracional. Esse crime de instigação ao ódio irracional é moeda corrente hoje entre nós, mas, se o ódio é irracional, a instigação é muito consciente: os políticos e comentadores que apelam à criminalização da política estão a trabalhar o lado irracional das pessoas, que é a metade da lua onde trabalha o ódio; mas eles, esses políticos e comentadores, estão conscientes disso e é mesmo essa irracionalização da vida pública que querem obter e assim buscam. Isso sim é criminoso.