10.3.08

a indigência intelectual

Comentador encartado, e assinando como "Professor de Ciência Política (ISCTE)", André Freire escreve hoje no Público o seguinte:
«É imperioso concluir que a gigantesca manifestação de cerca de 100 mil professores (...) evidencia que os mecanismos de concertação não têm funcionado, dando razão aos sindicatos.»
Pena que os estudiosos de "ciência política" não sejam dados ao estudo de alguns rudimentos de lógica elementar. É que isso talvez pudesse poupar a André Freire uma falácia tão comezinha como esta: a falha de uma "dança a dois" (negociar) não pode, sem mais explicação, ser atribuída apenas a um dos parceiros. O que fizeram os sindicatos, de verdadeira negociação e não de mero "encanar a perna à rã", que autorize tão ilustre cientista político a dar-lhes razão sem mais delongas e a isentá-los de qualquer responsabilidade, sem sequer achar que deva explicar esse tópico?
Pobre "ciência política". A mesma pobre ciência política que leva André Freire a falar de "ocupações", "bloqueios", "boicotes" e "etc." (além de "manifestações", claro) como aquilo que lhe passa pela cabeça como exemplos de "formas não convencionais de participação política". A falta de compreensão de que pode haver formas alternativas de intervenção política, fora dos partidos e fora da rua, que não se esgotem grosso modo no boicote, que constituam um verdadeiro reforço das instituições democráticas - essa falta de compreensão é um sinal de indigência intelectual. Que, pelos vistos, paga. Até em "cientistas políticos".