11.3.08

Basílio Horta, presidente da AICEP, ...

... que é a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, fornece um exemplo adequado para um ponto que queria aqui focar.

Basílio Horta não é socialista, nem aparentado. Muito menos militante do PS. Apesar de andar por aquelas bandas de "demo-cristãos" ex-PP ou ex-CDS que por vezes se acordam com os socialistas. E, contudo, lá está como presidente da AICEP sob a batuta de um governo do PS. Sem querer fazer aqui um juízo da bondade da sua actividade, coisa para que eu não seria competente, parece-me ser claro, pelo menos, que a ideologia de Basílio Horta em nada colide com a sua missão, missão essa que está conforme com a orientação do governo legítimo da nação. E, como ele, muitos outros não alinhados, partidária ou politicamente, ou alinhados por outras famílias, poderiam perfeitamente servir a estratégia nacional, tal como entendida pelo governo do momento, naqueles inúmeros aspectos em que a adesão global à orientação governativa nada acrescenta ao desempenho esperável.

É que eu desejaria muito ver profissionais competentes, que fossem ao mesmo tempo militantes de partidos da oposição, a exercer lugares de responsabilidade no aparelho público que serve as políticas definidas legitimamente pelos órgãos de soberania. Gostaria de ver militantes do PCP, do PSD, do BE, do CDS, a exercer lugares de chefia pública ao tempo de um governo do PS. E o mesmo para o caso de governos de outras cores. Em lugares em que o pensamento político e a ética dessas pessoas não colidisse com essas funções. E isso tem de ser o caso em muitos casos.

Claro que isso implicaria uma mudança de mentalidade. De toda a gente, e não apenas dos que governam numa dada altura. Implicava muita clareza de espírito acerca do que é o serviço público, acerca da legitimidade dos governos democráticos, acerca das responsabilidades de todos e não apenas "dos tipos do governo", acerca da indesejabilidade de abusar da demagogia em democracia. E, claro, implicava também que outra espécie de demagogia fosse abandonada: aquela que consiste em tentar "criminalizar" que os apoiantes do partido do governo possam exercer funções na "máquina".

Já agora, peço-vos um exercício de memória: alguém se lembra quem era o primeiro-ministro deste país ao tempo em que começou a moda da partidarização da alta função pública?