Venho agora da estreia da peça A Filha Rebelde. Quem me conhece sabe que o teatro de que (mais) gosto é o "teatro metafísico" - e esta peça não está nesse grupo. Pode até achar-se um pouco ingénua a versão para teatro do texto que começou por ser reportagem dos jornalistas José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz. Mesmo assim. Não resisto a gostar muito deste espectáculo. Poucas vezes se dirá com tanta propriedade que a realidade ultrapassa a ficção. Há dias, na TV, uma jornalista perguntava a José Pedro Castanheira por que razão não tinha feito ficção com esta história. E ele respondeu, obviamente: para quê ficcionar quando temos esta realidade? É que uma das principais raízes da força deste espectáculo é ele contar uma história verdadeira da nossa história recente. Uma história de pessoas e de países, de países que mudam e de pessoas que se mudam de armas e bagagens, levando a alma atrás, quando se cansam de os outros as tomarem como territórios já conquistados.
O texto de apresentação que se encontra no sítio do Teatro Nacional D. Maria II é um bom ponto de partida para quem ainda precise de que o seu apetite seja despertado:
"Annie Silva Pais, filha única do último director da PIDE, o Major Fernando Silva Pais, é casada com um diplomata suíço. A estada em Cuba e um encontro com Che Guevara mudarão a vida de Annie, que, saturada de uma existência em função das aparências, condicionada pelo aparelho repressivo do regime ditatorial português, se entregará integralmente à revolução cubana e aos seus ideais. Desaparecida durante algum tempo, Annie abandona o marido, a família e o país. No Portugal de Salazar, todos temem que tenha sido raptada e utilizada no contexto da guerra colonial. Mas Annie envolve-se numa profunda luta de valores e convicções, só regressando a Portugal após o 25 de Abril para ir visitar o pai à prisão. A coragem será uma das principais marcas de Annie, que protagoniza uma peça onde o drama, a traição, os afectos, a morte e os combates políticos se cruzam naquela que é uma história de vida rara e exemplar."
Ah, falta acrescentar: não tenho ouvido os críticos da actual direcção do D. Maria, que trataram o Carlos Fragateiro como se ele fosse uma abentesma quando ele foi nomeado, não os tenho ouvido falar muito nos últimos tempos. Porque será?