«Durante uma visita a Florença (…) fiquei fascinado pela "anatomia comparada" das asas de Gabriel, como se encontram representadas pelos grandes pintores de Itália. As caras de Maria e Gabriel são muito belas e os seus gestos frequentemente muito expressivos; no entanto, as asas pintadas por Fra Angelico ou Martini parecem rígidas e sem vida, apesar da beleza da sua intrincada plumagem. Mas depois vi a versão de Leonardo. As asas de Gabriel são tão flexíveis e graciosas que dificilmente me preocupei em estudar a sua cara ou notar o impacte que tinha em Maria. Até que reconheci a origem da diferença. Leonardo, que estudou pássaros e compreendeu a aerodinâmicas das asas, pintara uma máquina funcional nas costas de Gabriel. As suas asas são simultaneamente belas e eficientes, possuem não só a orientação e a curvatura correctas, mas também a disposição certa das penas. Tivesse Gabriel sido um pouco mais leve e poderia ter voado sem intervenção divina. Em contraste, o Gabriel de outros pintores transporta ornamentos fracos e estranhos que nunca poderiam funcionar.»
Stephen Jay Gould, in O Polegar do Panda , Gradiva (p.343)
Stephen Jay Gould, in O Polegar do Panda , Gradiva (p.343)
Leonardo Da Vinci, A Anunciação, c. 1474