30.3.07

Como se manipula um referendo

10:52
Portugal já se habituou a que, de quando em vez, um ou outro referendo entre pela política nacional adentro, ameace mudar isto e aquilo... para, afinal, não ser vinculativo. Associada a esses ataques referendários tem vindo outra questão interessante: devem respeitar-se os resultados de um referendo mesmo quando ele não é vinculativo? O facto é que, mesmo que alguns partidos tomem por "vinculativos" referendos com abstenção maioritária, os efeitos jurídicos da não vinculação não se dissolvem. E assim se abre campo a um jogo do gato e do rato na arena da democracia.

Luís Aguiar-Conraria, Professor de Economia na Universidade do Minho, publica hoje, numa coluna de Opinião do suplemento Economia do quotidiano Público, um texto que ajuda a compreender o mecanismo subjacente à questão do caractér vinculativo dos referendos. Felizmente, o artigo - que, além de ser notável, apresenta uma proposta muito inteligente - está também disponível no blogue do seu autor (A destreza das dúvidas). Podem, portanto, com muito proveito, lê-lo em linha clicando já aqui em ... Quanto vale uma abstenção?

As ilusões dos filósofos

Antes eram as ilusões dos filósofos. Hoje, os cientistas arrogantes (que os há) acreditam que as ilusões só acontecem aos outros. Que só os outros vêem no mundo o que só existe na sua mente. E, na verdade, se a história ensina alguma coisa, vêem claramente visto o que amanhã outros verão como claramente não visto. Enfim: sendo as ciências filhas da filosofia, quem sai aos seus não degenera. Ou sim?


"Les tourbillons".
Ilustração de Principia philosophiae, René Descartes, 1644.

29.3.07

Torga, PIDE, memórias e esquecimentos

10:50
No ano do centenário do nascimento de Miguel Torga, a Biblioteca Nacional coloca à disposição do público processos da PIDE que tomavam como alvo esse médico (Adolfo Correia Rocha) que era o homem que dava o corpo ao escritor. A imagem abaixo é uma das muitas disponíveis no sítio da Torre Tombo (ver secção "Documento do Mês"). (Clicar na imagem para aumentar.)

As asas de Gabriel e os excessivos ornamentos

«Durante uma visita a Florença (…) fiquei fascinado pela "anatomia comparada" das asas de Gabriel, como se encontram representadas pelos grandes pintores de Itália. As caras de Maria e Gabriel são muito belas e os seus gestos frequentemente muito expressivos; no entanto, as asas pintadas por Fra Angelico ou Martini parecem rígidas e sem vida, apesar da beleza da sua intrincada plumagem. Mas depois vi a versão de Leonardo. As asas de Gabriel são tão flexíveis e graciosas que dificilmente me preocupei em estudar a sua cara ou notar o impacte que tinha em Maria. Até que reconheci a origem da diferença. Leonardo, que estudou pássaros e compreendeu a aerodinâmicas das asas, pintara uma máquina funcional nas costas de Gabriel. As suas asas são simultaneamente belas e eficientes, possuem não só a orientação e a curvatura correctas, mas também a disposição certa das penas. Tivesse Gabriel sido um pouco mais leve e poderia ter voado sem intervenção divina. Em contraste, o Gabriel de outros pintores transporta ornamentos fracos e estranhos que nunca poderiam funcionar.»
Stephen Jay Gould, in O Polegar do Panda , Gradiva (p.343)


Leonardo Da Vinci, A Anunciação, c. 1474

28.3.07

Com o nu me escondes a verdade


«Na Europa, a verdade reside no que é desvelado, é a aletéia [dos gregos], enquanto que no Japão o que é mais importante é o que está escondido. Tanto assim é que o nu só acederá ao seu próprio valor sob as vestes. De tal sorte é a incomensurável distância que separa estas duas civilizações!»
(Hisayasu Nakagawa, Introduction à la culture japonaise, p. 101)


Utamaro Kitagawa, “Fonte de poema”: quarto no primeiro andar (as reproduções ocidentais costumam assumir o título "Os Amantes").
(Kitagawa é um dos artistas mais populares no Japão da segunda metade do século XVIII, mas tem outras obras que correspondem pouco à idealização que Nakagawa nos propõe...)

26.3.07

Cavaco, Estaline, Soares, Trotsky e o Adobe Photoshop

10:48
Cavaco Silva, exercendo actualmente as funções de Presidente da República, pensa poder apagar Mário Soares da história recente de Portugal, designadamente da história da aproximação e adesão de Portugal à União Europeia (ex-CEE). Não nos espantemos. A tentação de apagar personagens da história é velha.

Estaline, de quem Lenine desconfiava, não queria sombras na sua ficção de ter sido o preferido do primeiro líder. A grande pedra no sapato era Trotsky, que Lenine podia ter achado irresponsável mas a quem reconhecia mais inteligência. Para Estaline, mandar matar Trotsky não bastava. Era preciso também apagá-lo da memória. Por exemplo, apagando-o das fotografias. Foram pioneiros nisso, como se vê nos dois pares de fotos abaixo.

No primeiro par de fotos, temos primeiro Lenine e Trotsky na Praça Vermelha celebrando juntos o segundo aniversário da revolução (1919). Temos, depois, a foto “retocada” para publicação (em 1967) de um livro sobre Lenine. O “retocado” foi Trotsky, enviado para as brumas da falta de memória.




No segundo par de fotos, temos primeiro Lenine (1920, frente ao Teatro Bolshoi em Moscovo) a falar às tropas. Trotsky, que teve responsabilidades no governo comunista na área militar, acompanha-o em posição de destaque (de pé, junto ao palanque). Esta imagem tornou-se um símbolo da Rússia revolucionária, mas a sua utilização em muitas publicações de grande tiragem foi “filtrada” para extrair Trotsky desse símbolo.





Não se pense que Estaline só se preocupava com Trotsky. Um terceiro par de fotos mostra como Nikolai Yezhov foi apagado de uma foto onde aparecia ao lado de Estaline, “apagão” que aconteceu depois da sua execução em 1940. Adequadamente, foi substituído pelas águas do canal Moscovo-Volga: ele tinha sido o comissário responsável pelo transporte fluvial.





Hoje em dia, alguns responsáveis políticos nem se contentam em brincar com o Photoshop para retocar a história. Querem mesmo apagar outros do reconhecimento que lhes é devido. Politicamente isso é abjecto. Mesmo que o primeiro magistrado da nação se ocupe a dar explicações esfarrapadas que só denunciam a sua má-fé. Ele, Cavaco Silva, que há mais de 20 anos tentou pôr em causa a cerimónia de adesão de Portugal à CEE por mera manobra partidária, acabado que estava de tomar o poder no seu partido. Ou já não se lembram? Ele deve lembrar-se. Terá sido por isso que afastou Soares de uma reunião onde ele, Soares, devia ser a estrela principal?

(Nada do que fica dito depende de ter ou não ter simpatia por Mário Soares. O que Estaline representa não depende da nossa opinião acerca de Trotsky. O que o gesto de Cavaco representa não depende do seu alvo.)

(As fotos são do sítio The Commissar Vanishes.)

"Olhares sobre a Filosofia"

10:46


A Jornada “Olhares sobre a Filosofia. A Filosofia na Escola, na Cidade e na Cultura”, organizada por Maria Luísa Ribeiro Ferreira, Isabel Matos Dias e Adelino Cardoso, todos da comunidade filosófica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, teve lugar na passada sexta-feira, com sala apinhada todo o dia no Centro Nacional de Cultura.

Ideias sobre a filosofia que por cá temos.
Foram lá ditas muitas coisas interessantes e importantes. Não podendo reter todas, lembramos algumas. Adriano Moreira, questionando-se sobre o papel da filosofia no modelo político ocidental, pronunciou-se contra a “mercadorização” da cultura e defendeu que a sociedade do conhecimento tem de ser também a sociedade da sabedoria. Aí, citou Gandhi como tendo escrito “Lembro-me da minha ignorante e muito sábia Mãe”. João Maria André, filósofo da academia de Coimbra, falou como homem do teatro e de como as suas experiências de animação cultural (tais como teatro feito por e com pessoas sem abrigo) seriam outra coisa completamente diferente (e mais pobre) sem a capacidade de filosofar nessas vivências. Diogo Pires Aurélio lembrou os pecados que nos cercam culturalmente: a ideia de que a ciência (positivista) é a única forma de saber (a que chamou “modernismo”), a ideia de que tudo são pontos de vista e narrativas (a que chamou “pós-modernismo”), a ideia de que o saber só interessa se tiver utilidade imediata (a que chamou “utilitarismo”). José Manuel Curado, da Universidade do Minho, criticou o facilitismo e perguntou: porque é que a engenharia e a medicina (por exemplo) não sentem que a época esteja a ser injusta com elas e a filosofia se queixa tanto da sua cidade? E respondeu: porque se calhar não está a fazer o trabalho de casa.

Os filósofos desertaram da cidade?
Numa mesa com engenheiros e médicos (“Filosofia e Inteligibilidade Científica”) ficou a amostra de como poderia ser útil a filosofia frequentar mais as casas das suas filhas (as faculdades das ciências). Nesse contexto, o médico e filósofo Miguel Oliveira da Silva suscitou uma das questões mais candentes para a comunidade filosófica, se ela ainda tiver capacidade para se questionar: porque é que a filosofia não desce à cidade? Por exemplo, onde estiveram os filósofos no recente debate sobre o aborto? Onde estão os filósofos agora que se segue a questão da regulamentação da objecção de consciência?

A ferida na comunidade filosófica portuguesa.
Na sessão da manhã, Fernanda Henriques, da Universidade de Évora, pessoa com experiência dos meandros do Ministério e com memórias das guerras passadas, disse algo que todos os filósofos (ou, pelo menos, todos os professores de filosofia) têm de escutar com ouvidos de ouvir. Concorde-se ou não com tudo o que disse (e nós não concordamos), expôs o bezerro de ouro à fúria da multidão quando lembrou de forma muito tempestiva: há uma profunda cisão na comunidade filosófica portuguesa. E, acrescentamos nós, essa cisão, entre “analíticos” e “continentais”, é uma ferida que tem sangrado muito à volta dos programas do secundário. Fernanda Henriques teve a coragem de mostrar, pelo exemplo, que não podemos baixar o nível da discussão ao ponto de tratarmos os “outros” como incompetentes só por não concordarmos com eles.

A amálgama voraz.
Na sessão de abertura o secretário de estado Jorge Pedreira disse três coisas simples. Primeiro: contrariamente ao que tinha dito o representante do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, não há nenhum desinvestimento em filosofia do ponto de vista do seu peso disciplinar no currículo do secundário; nem esse peso é menor cá do que noutros países europeus. Segundo: o secundário é um grau de ensino com missões próprias, não serve apenas para aceder ao superior; assim sendo, não é razoável exigir que a filosofia seja disciplina obrigatória para todos os alunos como condição de conclusão do secundário; isso não acontece em nenhum país europeu. Terceiro: o ministério está aberto a que possa haver exame de filosofia para efeitos de acesso ao ensino superior. Pois bem: ninguém se deu ao trabalho de ripostar às questões levantadas pelo governante. Alguém repetiu acusações já sabidas, mas responder ao que ele disse, ninguém. Pior: ninguém teve o bom senso de dizer logo ali, claramente, à frente do governante e do público, que ele tinha manifestado abertura e essa abertura não seria desperdiçada. Porquê?
O pior do dia, que teve voz principalmente durante a manhã, foi a amálgama entre os problemas de um grupo profissional (professores de filosofia) e os problemas da filosofia na cidade. Quando um jovem, que jovem é, perguntou: “e estão os professores aptos a ensinar filosofia?”, mandaram-no perguntar a quem soubesse. Ora toma. Toma? Mas essa questão não interessa aos professores de filosofia?
Os professores de filosofia, e os filósofos, estarão sempre mal enquanto não descerem à cidade como filósofos para meter as mãos nas coisas difíceis, para se sujarem e perderam a candura académica. Enquanto estiverem mais preocupados com a quantidade de trabalho disponível para a classe docente não servem para ajudar a encontrar respostas àqueles desafios que lançaram, por exemplo, Adriano Moreira, Diogo Pires Aurélio ou José Manuel Curado. O que consome é essa amálgama voraz entre a corporação e o amor à sabedoria.

22.3.07

Red soul


(Foto de Porfírio Silva. Berlim, Dezembro de 2006.)

Caligrafia



(Foto de Porfírio Silva)

Caligrafia, no Templo do Buda de Jade, em Xangai, China. Caligrafia onde a luz mostra o seu espanto, onde a luz deixa uma marca de exclamação. Que espanto mostra a luz com esse sinal? Porque exclama a luz? Talvez pela nossa incompreensão.

Na China a escrita é um ramo das artes visuais, sem equivalente em nenhuma outra cultura. Os mais antigos testemunhos da escrita chinesa datam de há cerca de 3700 anos. As formas mais antigas eram inscrições divinatórias de que o soberano se servia para consultar os Espíritos sobre as grandes decisões do Estado. Essas primeiras inscrições traduziam conceitos e não falas. Pouco a pouco os símbolos foram-se aproximando da língua falada. A escrita chinesa mudou, entretanto, muito, mas mantém influência dessas origens.
Na China há escrita por todo o lado: em lugares de honra nos palácios e nos templos, nas paredes das lojas e das casas de chá, nas mais pobres casas da mais isolada aldeia.
Segundo certas opiniões, não é preciso saber ler chinês para apreciar a caligrafia. Pode apreciar-se a caligrafia sabendo como se escreve. Uma vez que cada caracter é composto por um número preciso de pinceladas, que devem ser dadas numa ordem precisa, podemos conhecer a dinâmica gestual que esteve na base de cada texto que vemos desenhado. E essa dinâmica pode ser apreciada mesmo sem compreender o chinês. O próprio conhecedor da língua chinesa pode ser colocado nessa situação, porque há uma forma de caligrafia (“escrita de erva”), uma espécie de estenografia frenética, que resulta quase indecifrável para a generalidade dos leitores chineses – mas é apreciada visualmente.
A caligrafia como forma de arte surgiu apenas no século III da nossa era, na época Han. A partir daí tornou-se uma disciplina, com teóricos, mestres, críticos, coleccionadores – até se tornar a mais prestigiada de todas as artes.
A caligrafia é executada com tinta, sobre seda ou papel, aplicada com um pincel – o que é um difícil exercício de controlo, requerendo concentração mental, equilíbrio físico, controlo muscular. Coisa para demorar muitos anos a dominar com alguma competência! A tinta, sendo instável (subtis matizes de brilho, negrura, profundidade, espessura, fluidez, secura, …), oferece inúmeras possibilidades expressivas. O papel ou a seda, sendo imediatamente absorventes, não permitem erros, nem hesitações, nem arrependimentos. Todas as tremuras do espírito ou do corpo ficam registadas.
Escrever: uma arte dos que apreciam a durabilidade do efémero.
(Recorremos ao capítulo 4 da obra de Simon Leys, Ensaios sobre a China, de 1998, com tradução portuguesa na Livros Cotovia, 2005)

20.3.07

Lá dentro dormem sentinelas


Vistas da noite no bairro de Ginza (Tóquio).
(Foto de Porfírio Silva. 7 de Novembro de 2005.)

As muitas camadas das nossas almas


Pormenor da obra de Anselm Kiefer (n. 1945) intitulada "Lilith am Roten Meer" (Lilith no Mar Vermelho), de 1990.

Comentário do autor junto desta obra: "Esconso é o futuro. Porque tudo o que é, passa. Há um capítulo maravilhoso em Isaías que diz: a erva crescerá sobre as vossas cidades. Esta frase sempre me fascinou, já em criança. Isto diz poeticamente que vês as duas coisas ao mesmo tempo. Isaías vê a cidade e as diferentes camadas sobre ela, a relva, e depois outra cidade, a relva, e depois outra cidade ainda."

Encontrámos esta obra exposta no Museu de Arte Contemporânea que se encontra instalado na Estação de Hamburgo, isto é, no edifício da antiga estação de caminho de ferro de onde se tomava o comboio para Hamburgo. Este museus reabriu ao público em 1996.
(Berlim, Dezembro de 2006. Foto de Porfírio Silva.)

19.3.07

Pensar é uma coisa tramada


Nas ruas de Lisboa.
(Foto de Porfírio Silva)

Um livro que vos proponho


Alguém me pergunta porque não informo aqui da saída recente do meu livro A Cibernética. Onde os Reinos se Fundem. Muito bem. Então, aqui vai.
Acabou de sair nas Edições Quasi, Biblioteca Os Dragões do Éden, Série Histórias da Ciência.
Podem descarregar-se dois ficheiros com a introdução e o índice (tal como apareciam nas últimas provas).


Clicar aqui para descarregar o Índice .


Clicar aqui para descarregar a introdução.


Abaixo pode ver-se a capa.

Comprem! Comprem!


16.3.07

Autocarro escolar


Vista de rua em Asakusa (Tóquio).
(Foto de Porfírio Silva. 7 de Novembro de 2005)

Blogues de ciência (3)


A sugestão de hoje vai para o Viridarium, que se apresenta como “Blog dedicado à história e à compreensão das ciências”, mantido pela Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto de Investigação Científica Bento Rocha Cabral. Os colaboradores são Ricardo Lopes Coelho, José Pedro Sousa Dias, Ricardo S. Reis dos Santos e Clara Pinto Correia.

Uma das práticas interessantes deste blogue é a publicação de entrevistas com personalidades variadas, que normalmente não se cingem a um único tema. Para começar sugiro a entrevista com o filósofo Ricardo Santos , publicada a 17 de Fevereiro de 2007.

E, depois, é ler o resto.

A Filha Rebelde



Venho agora da estreia da peça A Filha Rebelde. Quem me conhece sabe que o teatro de que (mais) gosto é o "teatro metafísico" - e esta peça não está nesse grupo. Pode até achar-se um pouco ingénua a versão para teatro do texto que começou por ser reportagem dos jornalistas José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz. Mesmo assim. Não resisto a gostar muito deste espectáculo. Poucas vezes se dirá com tanta propriedade que a realidade ultrapassa a ficção. Há dias, na TV, uma jornalista perguntava a José Pedro Castanheira por que razão não tinha feito ficção com esta história. E ele respondeu, obviamente: para quê ficcionar quando temos esta realidade? É que uma das principais raízes da força deste espectáculo é ele contar uma história verdadeira da nossa história recente. Uma história de pessoas e de países, de países que mudam e de pessoas que se mudam de armas e bagagens, levando a alma atrás, quando se cansam de os outros as tomarem como territórios já conquistados.

O texto de apresentação que se encontra no sítio do Teatro Nacional D. Maria II é um bom ponto de partida para quem ainda precise de que o seu apetite seja despertado:

"Annie Silva Pais, filha única do último director da PIDE, o Major Fernando Silva Pais, é casada com um diplomata suíço. A estada em Cuba e um encontro com Che Guevara mudarão a vida de Annie, que, saturada de uma existência em função das aparências, condicionada pelo aparelho repressivo do regime ditatorial português, se entregará integralmente à revolução cubana e aos seus ideais. Desaparecida durante algum tempo, Annie abandona o marido, a família e o país. No Portugal de Salazar, todos temem que tenha sido raptada e utilizada no contexto da guerra colonial. Mas Annie envolve-se numa profunda luta de valores e convicções, só regressando a Portugal após o 25 de Abril para ir visitar o pai à prisão. A coragem será uma das principais marcas de Annie, que protagoniza uma peça onde o drama, a traição, os afectos, a morte e os combates políticos se cruzam naquela que é uma história de vida rara e exemplar."

Ah, falta acrescentar: não tenho ouvido os críticos da actual direcção do D. Maria, que trataram o Carlos Fragateiro como se ele fosse uma abentesma quando ele foi nomeado, não os tenho ouvido falar muito nos últimos tempos. Porque será?

15.3.07

A verdade vem sempre ao de cima


(Foto de Porfírio Silva)


Se a verdade vem sempre ao de cima, o que fazem eles lá em baixo?
Leandro Erlich, da Argentina, responde por esta Piscina, de 2004.
(Museu Século XXI de Arte Contemporânea da cidade de Kanazawa, Japão, 5 de Novembro de 2005, data de abertura da exposição Alternative Paradise.)

Blogues de ciência (2)


Continuando a nossa viagem por blogues de ciência e de cientistas, sugerimos hoje o Blogómica , que se apresenta como um “Blogue de biologia molecular e celular para os alunos e todos os outros curiosos”. O autor é Rui Oliveira, Professor de Biologia na Universidade do Minho.

Como exemplo dos materiais didácticos que o Blogómica gosta de disponibilizar, sugerimos a posta publicada a 6 de Março de 2007, Propriedades da água.

Comecem por aí e, depois, é continuar!

14.3.07

Blogues de ciência (1)


Começamos agora uma volta por alguns blogues de ciência, ou de cientistas, ou de gente que percebe que a ciência também é um assunto da cidadania. Não seremos sistemáticos, nem queremos ser exaustivos, nem pretendemos ser avaliativos. Apenas queremos testemunhar certos recantos da blogosfera que estão longe das luzes fortes da ribalta por se dedicarem a coisas que muitos pensam serem de pouco interesse para a vidinha de todos os dias.

Começamos pelo A aba de Heisenberg , que escolhe para seu mote “A incerteza como princípio” (apesar de arquivar os seus textos pretéritos sob a designação de “certezas”). Apresenta como autores Isabel Prata, João Carlos Carvalho, Nuno Ferreira, Paulo César Simões e Sérgio Rodrigues.

Sugerimos, para começar, uma posta que já foi publicada em 2 de Dezembro de 2006, intitulada “A crença em Deus influencia a nossa capacidade de compreender a natureza?”

Boa leitura!

12.3.07

Migrantes em BD



“The Arrival” é um livro sobre a emigração. Um livro de Banda Desenhada. Mas um livro sem palavras. Um homem deixa a sua cidade empobrecida e parte à procura de outras possibilidades num país desconhecido do outro lado do grande oceano. Nessa outra terra tudo é fantástico, isto é: diferente, estranho, desafiador, por vezes bonito e até maravilhoso. Nessa outra terra há outros hábitos, outras gentes, sendo estas por vezes boas pessoas.

“The Arrival”, desenhado por Shaun Tan, é um livro delicioso sobre um tema candente, que diz tanto por não ter palavras, por nos deixar lembrar ou imaginar. Todos os sonhos e pesadelos que se misturam nos corpos e nas almas dos que um dia tiveram de partir.

E que fazemos nós quando os vemos chegar?



The suitcase



The old country



Cloud



Flock



Harbour



Inspection



The City



The story of The Giants



The market



The place of nests



Ticket



Dinner



Four seasons

9.3.07

Uma tenda dourada


Aspecto da sede da Orquestra Filarmónica de Berlim. Edifício construído entre 1960 e 1963, pretende fazer lembrar uma tenda de circo. O exterior dourado foi acrescentado entre 1978 e 1981.
(Dezembro de 2006. Foto de Porfírio Silva.)

8.3.07

Ride Me (ou "Natal é quando um homem quiser")


Berlim, Dezembro de 2006, montra de Natal num "grande armazém" da Friedrichstrasse.
(Foto de Porfírio Silva).

7.3.07

Na cúpula do centro dos que estão no topo

berlim06-0316.jpg

Dentro da novíssima cúpula de vidro do Reichstag ao anoitecer.
(Berlim, Dezembro de 2006. Foto de Porfírio Silva.)

O sono da razão e outras criaturas


Sui Jianguo é um dos artistas mais destacados entre aqueles que experimentam até onde podem ser empurrados os limites à liberdade na actual China (Popular? Pós-capitalista?). A sua obra mais famosa é O Sono da Razão (como "O Sono da Razão Produz Monstros", de Francisco Goya, que se refere ao Terror na Revolução Francesa). Em O Sono da Razão, de Jianguo, vemos um Mao Tsé-tung estendido (como um Buda reclinado), com os olhos fechados, coberto com uma manta azul às flores, rodeado de exércitos (como os guerreiros de terracota à volta do túmulo do imperador). Mas os exércitos são 20.000 dinossauros em miniatura, nas mais diversas cores garridas, em manadas que se chocam entre si (como os chineses fizeram várias vezes sob a batuta do Grande Timoneiro).

Aspecto de uma das versão de O Sono da Razão, de Sui Jianguo.
(Foto de autor desconhecido.)

Outra das provocações conhecidas de Sui Jianguo é um dinossauro vermelho com a inscrição "Made in China": como os brinquedos chineses baratos vendidos em todo o mundo; como os "dinossauros" do Partido; como a espécie animal há muito extinta na natureza...

Uma versão de Made in China, de Sui Jianguo.
(Foto de autor desconhecido.)

Sin Jianguo é um dos artistas da "fábrica 798": uma antiga fábrica de armamento construída nos arredores de Pequim pela antiga Alemanha de Leste para os camaradas chineses, ocupada por criadores culturais entre o alternativo e o chique.

(Mais informação no capítulo XLII do livro de Federico Rampini, O Século Chinês, de 2005, publicado em português pela Editorial Presença em 2006)

6.3.07

Memorial


berlim06-0369m.jpg

Berlim, a ver o dia declinar, nesta particular posição de estar imerso no memorial aos judeus que foram mortos na Europa antes de ter chegado a sua hora.
(Dezembro de 2006. Foto de Porfírio Silva.)


Sócrates e a Imigração

17:59

Começou hoje, e continua amanhã, na Fundação Calouste Gulbenkian, a conferência internacional Imigração: Oportunidade ou Ameaça? O Primeiro Ministro, José Sócrates, proferiu na sessão de abertura uma intervenção que ilustra o facto de Portugal ter, entre todos os paíes da União Europeia e mesmo do mundo, uma das políticas de imigração mais inteligentes e mais progressivas.

A largueza de vistas com que o governo de Portugal trata a questão da imigração nota-se bem quando, nesse discurso, Sócrates explicita que a imigração tem de ser entendida à luz de questões centrais para as nossas sociedades actuais, como sejam a evolução demográfica, o crescimento e o emprego, as dimensões civilizacionais e culturais que permitem dizer que "a miscigenação construtiva de civilizações e de culturas é um dos mais importantes efeitos criativos de longa duração do fenómeno da imigração" (palavra de Primeiro Ministro).

A dado passo, disse Sócrates: "A nossa visão deste fenómeno é uma visão positiva, optimista e aberta. Vemo-lo mais como um desafio e uma oportunidade do que como um risco, apesar de termos bem consciência de que ele também implica uma dimensão de ameaça, própria dos fenómenos globais e do intercâmbio humano. É por isso que não podemos partilhar das concepções que querem a Europa como uma fortaleza de difícil acesso a quantos a procuram com o objectivo de melhorar honestamente a sua vida e a dos seus filhos. Não! A nossa é uma visão diferente. São, por isso, bem-vindos todos os que quiserem comungar dos nossos valores constitucionais, das nossas leis e do nosso esforço de construção de uma sociedade partilhada, desenvolvida, justa e solidária." A isto eu chamo falar claro e sem demagogia: nem ignoramos os riscos, nem aceitamos que queiram subverter a nossa sociedade e os nossos valores fundamentais, nem nos fechamos numa falsa fortaleza que só os fracos e os ignorantes podem desejar ou pensar que seja possível.

Como de costume, com Sócrates temos sempre coisas concretas. Não esquecendo a próxima presidência portuguesa no âmbito da União Europeia, eis o cardápio de Sócrates para gerir de forma segura e ágil os fluxos migratórios, respondendo à pergunta "que fazer?":

"Em primeiro lugar, controlando com rigor as fronteiras para que os dispositivos de acolhimento possam funcionar com eficácia, proporcionando boas condições de integração a todos os que aspiram a viver legalmente entre nós.

Em segundo lugar, definindo com rigor os limites quantitativos e qualitativos no interior dos quais se deve processar o acolhimento.

Em terceiro lugar, desburocratizando e simplificando os pedidos de ingresso de modo a favorecer a procura legal e a evitar as entradas clandestinas.

Em quarto lugar, promovendo - quer no interior da União quer nos principais países de proveniência - uma política de informação clara, rigorosa e ampla sobre as normas que regulam a imigração e desenvolvendo acordos bilaterais com os países de proveniência com vista a uma adequação dos fluxos migratórios às capacidades de absorção nacional dos pedidos de ingresso.

Em quinto lugar, promovendo condições de facilitação do retorno voluntário e de repatriamento condigno aos que se encontram em situação de ilegalidade insanável.

Em sexto lugar, incrementando políticas de desenvolvimento recíproco entre países de acolhimento e de proveniência, sendo certo que a imigração regulada e controlada se constitui como factor de crescimento e de desenvolvimento.

Em sétimo lugar, promovendo condições para uma eficaz coordenação europeia do fenómeno, designadamente, para uma acção concentrada sobre as fronteiras de maior risco quer na imigração clandestina em massa quer no tráfico."

Bravo!

(Eu não sou de entusiasmos com governos, mas não posso deixar de aplaudir quando, numa questão onde grassa tanta demagogia e tanta irresponsabilidade, um PM fala claro e com lucidez.)

O processo dos macacos


Nos EUA do início dos anos 1920, os manuais escolares de biologia eram de forma geral claramente darwinistas. O manual obrigatório nas escolas do Tennessee também. Mas, em 1925, sob pressão dos cristãos fundamentalistas, o Tennessee tornou-se o primeiro Estado da União a proibir o ensino da teoria da evolução. A nova lei tornava um crime ensinar em qualquer escola pública "qualquer teoria que negue a história da Criação Divina do homem tal como é ensinada pela Bíblia".

O efeito pretendido era mais simbólico (definir o que é legítimo) do que prático (o manual em uso continuaria a ser o mesmo). Mas a ACLU (American Civil Liberties Association), que defendia a mais completa liberdade de expressão (desde os anarquistas e socialistas até ao Ku Klux Klan), desafiou publicamente (com anúncios nos jornais) um professor do Estado do Tennessee a agir contra a lei.

Nessa altura alguns notáveies de Dayton, preocupados com a decadência da terrinha (falência das minas), acharam que aquela era a oportunidade para concentrar as atenções da nação e atrair pessoas. E propuseram a John Scopes, professor de ciências na escola local, que se tornasse o isco da operação. O que ele aceitou. Apesar da pena prevista pela lei para aquele crime ser multa, ele aceitou ser preso, porque isso tornaria o caso mais picante. Posteriormente, Scope veio dizer que acreditava na justeza da causa em si mesma.

O resultado foi o esperado: um escândalo tremendamente popular. Scope tornou-se um símbolo: para uns, um mártir da ciência; para outros, um embaixador do mal. E, a propósito dele, Darwin ía ser julgado numa terreola do Tennessee.

Esse julgamento tornou-se o primeiro grande acontecimento mediático da América global. As sessões foram pela primeira vez transmitidas em directo por uma rádio. Alguns dos jornalistas mais famosos fizeram a cobertura no local. O circo fora do tribunal era ainda mais vistoso do que os acontecimentos dentro da sala de audiências, apesar de aí brilharem dois famosos oradores. Pela acusação, W.J. Bryan, três vezes candidato presidencial pelos Democratas, que fora adepto da teoria da evolução mas a rejeitou por causa dos ricos e poderosos que a usavam para justificar a desigualdade social (darwinismo social). Bryan considerava que o manual de biologia do Tennessee também alinhava nessa teoria. Pela defesa, C. Darrow, o mais brilhante defensor em questões criminais à época. O juiz daquele processo, que do ponto de vista religioso até era um moderado, julgava ter sido escolhido por Deus para aquela missão - e no ano seguinte tinha de novo eleições para aquele lugar de juiz. Dos doze jurados, onze eram membros empenhados de algumas das congregações religiosas locais - e nenhum conhecia a teoria da evolução. Além disso, o advogado de defesa achava a causa demasiado importante para ficar por ali: há historiadores que pensam que ele queria perder para poder recorrer a uma instância superior.

Entre a numerosa animação de rua que acompanhou o julgamento havia um macaco que todos os dias era vestido de forma diferente. Um gorila numa jaula foi exposto para as pessoas ajuizarem se ele podia ser parente delas. Dentro do tribunal, a defesa queria cientistas a depor. Durante o longo debate dessa questão, os jurados estiveram ausentes, por determinação do juiz. Finalmente, o juiz decidiu que não iriam ser ouvidos cientistas nenhuns, porque não estavam a julgar uma teoria científica, mas um professor que desrespeitara a lei estadual. Nessa altura, os media consideraram que o julgamento tinha sido decidido e a maioria dos jornalistas partiu. A defesa surpreendeu então, chamando como sua testemunha um especialista, já não em ciência, mas... na Bíblia: o advogado de acusação, Bryan! Mas isso parecia não lhe valer de muito, porque Bryan se esquivava à maior parte das perguntas com piadas para a galeria, tentando não conceder respostas que fossem contra a sua própria dignidade intelectual. A certa altura, a defesa perguntou à testemunha-de-defesa-que-era-chefe-da-acusação se ele acreditava que o mundo tinha sido criado em seis dias e ele respondeu: que importa se foi em 6 dias, 6 anos, 6 milhões de anos ou 600 milhões de anos? Isso era o que a defesa queria ouvir: se esse ponto admitia uma interpretação não literal, porque não fazer o mesmo com outros pontos?

Mesmo assim, Scopes foi condenado. Dois anos depois, o Supremo Tribunal do Tennessee anulou a pena, com base em detalhes técnicos, mas recusou revogar a lei anti-evolucionismo. Scopes escreveu mais tarde que se tinha sentido um tanto incomodado com tudo aquilo, porque... não se lembrava de alguma vez ter ensinado alguma coisa sobre Darwin ou a teoria da evolução.

Como se sabe, muitos aspectos desta história bizarra são muito actuais. Melhor do que eu, cada leitor fará o seu juízo.

On May 5, 1925, biology teacher John Scopes was arrested for teaching Darwin's theory of evolution in violation of Tennessee state law.(AP Photo)

5.3.07

Gavetas dos deputados


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Em Berlim, no piso inferior do edifício do Reichstag, onde está alojado o Parlamento Federal da Alemanha: uma gaveta para cada um dos deputados alemães que aqui exerciam a democracia antes dela ser destruída pela ditadura.
(Dezembro de 2006. Foto de Porfírio Silva.)

2.3.07

Boa noite, espera

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(Foto de Porfírio Silva)

Habitar um mundo feito com peças de corpos


Gu Wenda, nascido em Xangai em 1955 e formado no seu país natal, é um dos artistas plásticos chineses de maior renome internacional, vivendo e trabalhando actualmente em New York. Tem exposto em inúmeros países ocidentais e orientais.
Um do seus trabalhos mais recentes, a "Série das Nações Unidas", foi desenvolvido entre 1993 e 2004 e exibido em mais de vinte países. A instalação que aqui vemos pertence a essa série.

(Foto de Porfírio Silva)

Gu Wenda é um renovador das artes tradicionais chinesas: esta instalação dá uma nova dimensão à caligrafia com pincel de tinta - ao mesmo tempo que se cruza com as tendências para dar ao corpo humano um papel central na expressão artística. Trabalhos anteriores de Wenda já tinham renovado a arte da caligrafia de outro modo: usando falsos caracteres chineses, por si inventados.
Esta instalação intitula-se "Monumento da China: Templo do Céu" e é construída com cabelos humanos, de pessoas de muitas terras de todo o mundo, diferentes raças e ambos os sexos, que compõem "falso texto": palavras em caracteres imaginários do chinês e de outras línguas que existem à face da terra.

(Foto de Porfírio Silva)

O lugar central concedido aos cabelos humanos nesta instalação é significativo. Os cabelos, mesmo quando arrancados ou cortados, mantêm memórias muito precisas do corpo que os criou (permitem uma identificação individual precisa pelo ADN). O cabelo está associado, de formas diferentes de cultura para cultura, à vida e à morte, à privacidade, à hereditariedade, à fé, à identidade, ao nacionalismo, etc. . Para os chineses, o corpo, o cabelo e a pele representam o património dos antepassados. O humano concreto e particular cruza-se com a globalização nesta obra, na qual também se cruzam as nossas memórias culturais (Dalila derrotou Sansão cortando-lhe os cabelos...).

(Foto de Porfírio Silva)


(Foto de Porfírio Silva)

Wenda quer que a sua instalação seja habitável. Daí a presença de mesas, cadeiras e bancos. Se lá nos sentarmos ficamos, natur-cultur-almente, no meio de pedaços de corpos como nós.

(Foto de Porfírio Silva)

No Verão/Outono de 2006, o Hong Kong Museum of Art, localizado em Kowloon, apresentou esta instalação de Gu Wenda numa exposição intitulada "Hair Dialogue", que tivemos a oportunidade de visitar. Nessa exposição integrava-se também a instalação "Memorize the Future", da artista chinesa Leung Mee-ping (nascida em Hong Kong em 1961, ano de boa produção como é sabido). A imagem abaixo é desse trabalho de Leung Mee-ping.

(Foto de Margarida Marques)


(A primeira versão deste apontamento foi publicada no sítio O Império do Meio.)