Prefácio do Presidente da República no livro de intervenções Roteiros VI.
Se Cavaco Silva já mostrou que não é capaz de separar os interesses da sua pessoa privada do exercício da função presidencial, poderíamos dele esperar que poupasse à Presidência a estultícia de usar o cargo para tonificar os seus rancores político-pessoais, mesmo que isso implique colocar na praça pública, durante o exercício do seu mandato, conversas e actos praticados no quadro da relação discreta com outros titulares de órgãos de soberania?
Cavaco Silva está, antes de mais, preocupado consigo mesmo; a solidariedade não lhe diz nada, nem sequer na relação com os seus companheiros de partido, que sempre tratou como peças descartáveis da sua vidinha. O sentido de Estado, para ele, só vale na medida em que pensa, quase como o rei-sol, que o Estado é ele. A noção das instituições está, no seu comportamento, sempre dependente da sua obsessão pela imagem do herói que se julga. Cavaco Silva é um manhoso com doutoramento.