Não sei quem escreve a coluna "Sobe e Desce" da última página do Público. Mas essa coluna esta manhã deu-me vómitos.
Gil Canha, vereador do Partido Nova Democracia (PND) na Câmara Municipal do Funchal, bem como pessoas chegadas, estão a ser vítimas de repetidos actos de vandalismo: carros incendiados ou atacados de outras formas. Muitos pensam estar em causa um processo de perseguição política.
Ontem, na Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Coelho acusou a bancada do PSD local de albergar o mandante desses actos, que considerou terrorismo político. Fê-lo no seu habitual estilo truculento e, suponho, fora da ordem normal dos trabalhos parlamentares. Foi mandado retirar da câmara, o que foi concretizado por funcionários bem alimentados da dita Assembleia; foi depois retirado à força da zona do público, onde continuava a intervir, pelas forças policiais.
De certo o estilo deste ex-candidato presidencial não é ortodoxo. Tenho, contudo, alguma dificuldade em dar lições de ortodoxia comportamental a alguém que, sem vocação para servo, tenha de viver sob a ditadura de Alberto João Jardim, este sim um palhaço perigoso que o país tolera há décadas como se um cancro no pulmão fosse uma constipação.
Estamos certos de que o vandalismo que "por acaso" toca à porta da família de Gil Canha é uma perseguição politica? Não estamos. Mas a obrigação de um deputado é saber mais e dizer mais do que aquilo que poderíamos provar em processo judicial. E o "terrorismo regional" pode estar de volta com este novo alvo, ninguém pode descartar liminarmente essa possibilidade. A gravidade do caso é tal que justificaria muita heterodoxia comportamental de qualquer deputado.
Perante esta situação, o jornalista do Público tem uma visão diferente. Escreve no Sobe e Desce: «José Manuel Coelho [seta vermelha para baixo]. O deputado do Partido Trabalhista Português na Assembleia da Madeira é recorrente em acções que podem ter grande exposição pública, conseguindo assim o seu objectivo, mas que não dignificam quem exerce funções semelhantes. Ontem, foi expulso do Parlamento por estar a perturbar os trabalhos. Coelho pede medidas que garantam "os direitos e liberdades dos deputados", mas esquece-se que o seu papel é representar quem o elegeu e produzir trabalho.»
Quem quer que tenha escrito isto é de um cretinismo atroz. Se aquilo que José Manuel Coelho denunciou é verdade, ele está a fazer exactamente o seu trabalho: denunciar, apesar do controlo brutal sobre qualquer meio que na Madeira sirva para denunciar o que quer que seja. Que um ou uma jornalista qualquer ache que isso não é "representar quem o elegeu" e "produzir trabalho", só pode querer dizer que o escriba ignora a realidade da Madeira e não tem noção nenhuma do valor da democracia e do que um deputado deve à defesa da liberdade. Dá-me vómitos ler a prosa pesporrenta de gente que confunde os alvos, atacando os que têm de fazer o pino para atrair as atenções para os que sofrem a violência dos ditadores, em vez de atacar os próprios ditadores violentos. Se começassem a queimar a propriedade dos seus familiares, repetidamente, talvez o/a jornalista em questão iniciasse um processo de auto-esclarecimento.