Vou copiar para aqui algo que escrevi num comentário ao meu post anterior, uma história pouco católica. Trata-se, apenas, de uma explicitação desta frase que aparece quase a terminar aquele meu texto: «Espero, com franqueza, que a minha posição sobre qualquer dos tópicos da questão “religião” não mude por causa deste episódio pessoal. Sempre tentei, e quero continuar a tentar, esse mínimo de liberdade que consiste em sermos capazes de pensar no mundo sem darmos demasiada importância às nossas contingências particulares.»
Reza assim:
Desejo que fique claro que eu não mudei de posição relativamente à religião e às igrejas por causa deste assunto. Não me tornei um fanático anti-religioso, que nunca fui. Continuo a pensar que certas abordagens "de esquerda" à religião estão erradas, mormente por descurarem a necessidade de uma compreensão antropológica do sagrado, que não se reduz à política imediata. Continuo a discordar radicalmente de certas orientações actuais da Igreja católica, no que acompanho insignes teólogos que Roma calou, proibiu de ensinar e/ou de publicar. Continuo a aborrecer o laicismo extremista, que tenta reduzir a expressão da religião ao interior de cada um ou ao espaço privado - tal como continuo a abominar o uso político que é feito da religião. Continuo a pensar que o actual estado da Igreja católica não está inscrito na sua essência, tal como os Papas ostensivamente debochados existiram e não fazem parte da essência da Igreja - mas não aceito que me proíbam de criticar isso. Ainda penso que a questão da existência de Deus não é uma questão científica, não é uma questão que possa ser decidida de forma certa por raciocínios filosóficos - por isso não sou ateu. Continuo a pensar que, no mundo concreto em que vivemos, a tolerância religiosa (entre crentes e não crentes, entre crentes de diversas crenças) é importante para a paz e a liberdade, razão pela qual me interesso por questões como o diálogo inter-religioso. Em suma: tudo o que me parecia complexo antes deste caso, continua a parecer-me complexo; não me radicalizei por causa disto, continuo a não ter respostas para tudo - mas tenho uma ideia da história das igrejas cristãs e sei que muito do que está em causa não vem de nenhuma "alta entidade", vem apenas do entendimento que certos homens fazem do papel que lhes cabe. E não prescindo de discutir isso.