3.9.11

Barreto, Moisés, e o deserto




António Barreto defende nova Constituição aprovada com referendo popular.

Há dois aspectos no que, segundo relata o Público, terá dito Barreto.
Um, diz respeito ao conteúdo da Constituição. Num país que gosta de encontrar desculpas, em vez de criar soluções, há sempre espaço para cavalgar a ideia de que a Constituição ideal faria maravilhas pela pátria. Barreto, apesar de dizer que a causa da crise não é a Constituição, navega nas águas dos criadores de divertimentos: a conversa sobre a Constituição transmite a ideia de que o feiticeiro, se o deixassem, teria um genial golpe de varinha mágica para nos colocar noutro patamar da existência. Nisso, Barreto não está só: há muitos que sugerem terem no baú a Constituição-maravilha. O Jardim da Madeira é um dos habituais nessa conversa.
Outro aspecto diz respeito ao método para mudar a Constituição. Se fosse um general do exército a propor um método inconstitucional, ilegal, para mudar a Constituição, seria um golpista, activo ou em potência. Como é um sociólogo, goza da aura do "cientista social" e pode, impunemente, confundir o processo político de um país se dotar de uma Constituição com o processo messiânico de dar um decálogo a um povo perdido no deserto. Felizmente, Barreto logo perderia o entusiasmo com tal processo de outorgar uma Constituição quando lhe negassem o papel de Moisés, o tipo que entrega as tábuas da lei e diz que foi o próprio Deus que ditou as regras.